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Miguel Patrício -

Corte de Gravata

Festa de casamento é uma das mais lindas que existem. Muitos convidados, famílias reunidas, alegrias espalhadas, os cânticos da igreja, os olhares apaixonados do casal, a chuva que quase sempre aparece e finalmente, o melhor, o encontro de todos os amigos num salão para comer, beber, sorrir, ouvir músicas, tirar fotos, matar saudades. Tudo perfeito, não fosse aquele grupinho mais animado e menos educado se apoderar de uma tesoura, arrastar o coitado do noivo pelo pescoço e sair de mesa em mesa cortando pedacinhos de uma famigerada gravata...

O tal instrumento cortante, citado no parágrafo anterior, nunca falta ao convite de casamento. Às vezes se esquecem até as alianças, mas a tesoura, jamais! E assim acontece. Ao invés dos recém-casados, como pessoas civilizadas, dirigirem-se às mesas para cumprimentarem e agradecerem a presença dos convidados, apenas o noivo aparece empurrado por quatro ou cinco sujeitos já ligeiramente bêbados, que se arcam por sobre os pratos de comida, cuspindo nos alimentos, às vezes derrubando copos de bebidas, negociando fiapos de tecido com o representante masculino da mesa e depositando o montante arrecadado numa caixinha de papelão carregada por um dos indivíduos. Que papelão! Acrescente aí os gritos de entusiasmo quando alguma cédula de maior valor aparece em meio àquela balbúrdia.

É na verdade o único momento que tira a tranquilidade da festa. Há pessoas que fogem e se dirigem para outro setor do salão nesse instante constrangedor. Chegam a se esconder no banheiro esperando aquela corja se divertir e o ambiente se purificar outra vez. Alguns até vão embora mais cedo. A contrariedade aqui explícita não se refere ao dinheiro, pois o pai de família gastaria muito mais se estivesse com seus entes queridos em outro local para um jantar, por exemplo. Trata-se da invasão de privacidade, da maneira de abordagem, da quase agressão para arrancar o máximo que pode de cada um. Na verdade, é bom esclarecer que não existe uma quantia estipulada; depende da cara do sujeito, se revela posses ou não, depende da vítima, no caso.

Corte de gravata é mesmo uma atitude de mau gosto, que incomoda e aborrece os convidados, mas o pior de tudo é que o ato infame transforma o noivo em um pedinte. Todos sabem que o valor arrecadado normalmente serve para custear parte das inúmeras despesas que ele tem. Nem é preciso ser bom observador para notar que o recém-casado não se encontra à vontade nesse ingrato momento.

Que costume bobo e chato! Confesso que, por várias vezes, já deixei de me dirigir a essas comemorações para não me submeter a tal infortúnio. Não sei se sou o único a pensar assim, só sei que se eu, com o perdão da palavra, me arriscar um dia a me casar, meus convidados podem comparecer tranquilos à festa, garanto que não serão importunados; não haverá o tal corte de gravata!

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