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Miguel Patrício -

GOLEIRO BATE-ROUPA

Hoje me lembrei do tempo em que o Goiatuba Esporte Clube disputava o campeonato goiano. Vivo e atuante, pertencia à elite do futebol e mexia com toda a cidade. Nos dias de jogos, o Azulão do Sul chamava para si toda a atenção. Havia filas nas bilheterias e, em alguns confrontos, os torcedores fechavam o círculo das arquibancadas. Na Curva da Morte, o conhecido lado direito da entrada do estádio, uma concentração maior de adeptos gritava incessantemente o nome do time. Do lado oposto às cabines de rádio, a tradicional banda animava o ambiente. Bom mesmo era o foguetório próximo ao placar de madeira rebentando emoções na entrada da equipe em campo e no momento mágico dos gols.

Nesse tempo, se deu comigo um fato interessante. Eu trabalhava na equipe esportiva da antiga Rádio Goiatuba. Ao lado de meus companheiros, seguíamos o Azulão aonde quer que fosse jogar. Certa vez chegamos a uma cidade vizinha para realizar uma partida decisiva. O Goiatuba necessitava da vitória para se classificar à disputa final que o levaria ao título do campeonato. Nesse clima de decisão, vários torcedores se deslocaram para o local, dentre eles uma senhora de grande prestígio em nossa cidade, minha amiga. No instante em que antecedia o jogo, ela se dirigiu à cabine de transmissão para nos desejar um bom trabalho. E foi aí que tudo aconteceu...

Enquanto o repórter de campo entrevistava um dirigente à beira do gramado, eu e mais dois cronistas recebemos a ilustre senhora. A preocupação sobre a importante partida foi levantada e ela se revelou muito tranquila quanto ao futuro resultado do jogo. Fora do ar, a mulher nos confidenciou que havia consultado o seu Pai de Santo e que ele havia “mexido os pauzinhos” para que o Azulão saísse vitorioso do embate. Ela só não havia entendido porque o místico homem havia mencionado, enquanto realizava o seu trabalho, que o goleiro da equipe adversária era bate-roupa. Tratava-se de uma linguagem própria do futebol que ela não conhecia. Nós sorrimos e explicamos que o lance acontecia sempre que o goleiro não segurava a bola de imediato quando o chute era desferido em sua direção. Seriam necessários dois momentos para ele efetuar a defesa.
Assim o jogo iniciou. Fiquei com aquela história na cabeça durante toda a narração. O teimoso zero a zero prosseguiu até o final do segundo tempo quando um tiro mais forte foi desferido por um jogador do Goiatuba contra a meta adversária. O goleiro não conseguiu defender, “bateu roupa” e um dos nossos atacantes aproveitou a sobra para fazer o gol da vitória. Havia entrado em cena o goleiro bate-roupa citado pelo Pai de Santo.

Não me esqueço dessa passagem e, por sorte, guardei em meus arquivos a gravação do referido gol: “O goleiro bate roupa, e a bola vai parar nos fundos da rede. É gol do Azulão!” Velhos tempos, belos dias...

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