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Miguel Patrício -

TIRO CERTEIRO

Em qualquer região deste nosso País, seja nas grandes cidades ou aqui no meu interior, há uma força que move a população para o trabalho, para o lazer, para a vida. Não, não é o amor, não é o sonho, não é a fé. É a cachaça! Poucos não a usam; muitos não sabem usá-la, mas todos a reconhecem como fonte de pura motivação. Com ela, medo se transforma em coragem; cansaço em energia; tristeza e desencanto se transformam em felicidade. E tem mais: já foi comprovado que o trabalhador rende melhor sabendo que no final do dia vai se encontrar com os amigos para molhar a garganta.

A análise feita aqui nestas breves linhas não pretende apenas ressaltar o lado saudável da cachaça, pois são também creditadas a ela inúmeras desavenças, incontáveis desentendimentos. O bom mesmo são as histórias que ela faz acontecer. Certa vez, aqui pertinho da gente, uma mulher, nossa conhecida, se excedeu em algumas doses de motivação e foi ao velório que, naquele dia, era a atração de sua pequena cidade. Ao entrar, já se deparou com as lamúrias e a cara de choro dos presentes. A cachaça imediatamente duplicou sua comoção e molhou seu rosto com fartas lágrimas de condolências. A visão negra do caixão e o cheiro doce das flores em fusão com a amarga fumaça das velas despertaram o seu soluço que logo se intensificou ao abraçar a viúva. Era o início do escândalo.

Mais pessoas, devido aquela agitação, foram chegando e amontoando ali suas curiosidades. A pobre viúva, sufocada pelos repetidos e apertados abraços e pelo bafo azedo da pinga, foi salva pelos familiares depois de algum tempo de hesitação. A manguaceira então se debruçou ao defunto, evocando santos e proferindo mágoas no tom da voz que a cachaça ditava. As cômicas frases eram ouvidas pela plateia do interior da sala e repassadas aos outros mais distantes que não conseguiram penetrar no recinto.

Assim, de boca em boca, as lamentações alcoólicas correram pelas ruas da cidade até chegar, já bem distorcidas, aos ouvidos do esposo da cachaceira: “Você me abandonou”, “sempre te amei”, “não sei viver sem você”... E o homem, ferido em seu orgulho, também movido por algumas doses de uma boa caninha, armou-se de seu trabuco e partiu para a vingança. Em poucos minutos apareceu nas imediações e invadiu o velório para matar o defunto. A confusão se embaraçou nas pernas das pessoas que corriam. O tiro foi certeiro e o morto morreu pela segunda vez.

Fim da história. E enquanto era relatada, outras milhares aconteceram. Todas boas, motivadas por uma boa cachaça. Saúde!

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