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CARTÃO AMARELO

Quem acompanha o futebol brasileiro sabe de uma recente mudança no comportamento dos árbitros que conduzem os embates nos estádios de nossa Federação. O cartão amarelo está sendo aplicado com mais frequência aos jogadores que reclamam das decisões em campo dos “homens de preto”. A iniciativa visa moralizar a questão e trazer de volta o respeito à categoria. A tarefa do juiz estava se tornando muito ingrata, pois a cada trilho do apito os atletas das duas equipes levantavam os braços em sinal de protesto, proferiam palavras impróprias, e muitos até partiam em direção ao mediador para contestar a marcação. Agora tudo mudou, o cartão amarelo sobe, advertindo e punindo o infrator.

Vários torcedores não gostaram da mudança, mas eu adorei. Acho até que a atitude deveria ser estendida à nossa sociedade, pois reclamar é o que as pessoas mais sabem fazer, de tudo e de todos. Os lamentos são ouvidos à distância num coro de vozes que se entrelaçam, seguem pelas ruas da cidade, alcançam todos os bairros e se estendem pelas redes sociais até altas horas da noite. Essas pessoas deveriam ser punidas com o cartão amarelo. Reclamam do vento, da poeira, da baixa umidade do ar.

Reclamam do salário e dos preços das mercadorias. Reclamam dos dirigentes, da alta do dólar, do trânsito, das filas, dos vizinhos, do Lula, da vida. Reclamam até da falta de sal no almoço de domingo que a mãe faz com tanto carinho. O negócio é reclamar.

Ontem mesmo duas senhoras passaram por mim trocando desaprovações: enquanto uma esbravejava contra as cenas de sexo na novela das oito, a outra estava indignada com o topete novo do Luan Santana. Mereciam, sem dúvida, o cartão amarelo.

Em nossas leis não está prevista a advertência para quem está sempre de mal com a vida, mas deveria. Reclamação é coisa chata e torna chato quem reclama. Parece ser tradição entre nós esse comportamento. Ao invés do descontente trabalhar para a solução, prefere conviver com o problema para ter oportunidade de mostrar a sua contrariedade, a sua chatice. Merecia o cartão amarelo. O costume é tanto que, neste momento, eu estou reclamando das pessoas que reclamam. Eu também merecia o cartão amarelo.

Se faz sol, fervem-se as lamúrias; se faz frio, a choradeira veste-se de mangas compridas. Assim seguem as pessoas na costumeira tarefa de inventar reclamações. Ninguém recebe o cartão amarelo mesmo... Bem, agora vou terminar o texto, pois o editor do jornal me enche a paciência quando eu atraso um pouquinho no envio das crônicas para a edição. Êta sujeito difícil de aturar!

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