Esta história, me contaram; não é coisa da minha cabeça. E os personagens são bem conhecidos na cidade. Por muitas vezes, eles se aprontaram, empacotaram a tralha, convenceram as esposas para deixá-los ir e se enfiaram no mato. Para quem não aprecia o passeio, enfrentar estradas ruins, pernilongos, cobras, às vezes onças, por vários dias sem comunicação é loucura, mas para eles, pescadores, sempre foi a época mais esperada, sempre foi a melhor parte da vida.
Em todas essas aventuras, a partir do momento em que entravam no automóvel, a alegria brotava do nada e os seguia por todo o trajeto e, quando chegavam, ela já estava ali tomando conta do local. Brincadeiras, piadas, sorrisos circundavam as barracas, afastando qualquer preocupação ou lembranças da cidade. Numa pescaria, quem gosta sabe, o mais importante não é o lugar escolhido, não é a lua, não são os peixes, é a escolha dos companheiros. É necessário que todos sejam amigos para não surgir contrariedades, já que são inevitáveis as ironias, as chacotas entre eles, sem exceção. Aliás, certo pescador já disse que na beira de um rio, de um lago, não se deve ficar escolhendo as palavras; a gente deve falar para os companheiros aquilo que tem vontade de falar para a esposa em casa e não tem coragem. É realmente uma frase memorável! Assim a pescaria se anima e as risadas misturam-se com a música e o barulho do óleo na panela fritando o peixe. Tudo perfeito!
E eles falavam de tudo, brincavam com os infortúnios dos companheiros, com os erros cometidos, as desavenças nas famílias, os deslizes das mulheres, tudo! E ninguém se importava. Bem, nem tudo. Quando alguém tocava no nome da mãe do amigo, a coisa mudava de figura. A cara se fechava, as palavras se tornavam ríspidas, muitos até deixavam de se falar por alguns dias. Agressões não aconteciam, mas o clima ruim acabava com a pescaria, tanto que, por vezes, voltavam mais cedo pra casa.
Para resolver a questão, um dos pescadores, um pouco mais astucioso, de espírito leve, sugeriu a criação da “mãe do rio”. A ideia consistia em transferir para uma figura imaginária toda a crítica, a zombaria direcionada à mãe verdadeira lá da cidade. Assim, a frase “ É a sua mãe” não ofendia; se alguém pescava uma piranha e dizia ser parecida com a mãe do outro, não tinha problema. Sabendo que não se tratava da genitora real, ninguém se aborrecia com o brinquedo, não emburrava, arranhando o desenrolar da pescaria. E todos tinham uma, que substituía a outra da cidade. Quando alguém falava qualquer coisa sobre alguma genitora, imediatamente explicava “Estou falando da mãe do rio”! Ninguém se sentia ofendido, apenas sorria, aliás sorria até um pouco mais.
Pronto! O problema foi solucionado e todos pescaram felizes para sempre!