A praça ainda está por lá, mas a fonte pode-se dizer que não está, pois não funciona mais. Não sei por quê, já que era linda! Seus jatos coloridos surgiam de repente, num estridente gemido, e espalhavam pingos dourados de água fria na calçada ao seu redor, molhando as pessoas mais descuidadas que passavam por ali. Molhavam também os mais distantes quando o vento mudava de direção e empurrava a água sobre os bancos de cimento e canteiros afastados, sempre ocupados pelos visitantes. Entretanto, ninguém se importava. Sorriam e corriam, para depois voltarem quando o vento desse uma trégua.
A praça ainda está por lá, mas a fonte não se diverte mais, molhando as pessoas que ali compareciam para vê-la se apresentar. Naturalmente a praça recebia convidados que tinham outros interesses, além de ver a fonte. Em volta dela, rapazes e moças caminhavam lado a lado pela calçada molhada num giro interminável, completando voltas e voltas; alguns mostrando aos outros o amor conquistado, outros caminhando em busca de um novo amor e, muitas vezes, do primeiro. Dessas pessoas, parte seguia por um lado, outra parte pelo outro, e se esbarravam e trocavam olhares em cada volta. Era bonito de se ver; parecia formigas correndo em volta de um cupim sem saber como aprumar por ele. Ali nasceram namoros, casamentos, famílias.
Além do interesse amoroso, havia também aqueles que ali estavam por curiosidade, só para ver os jovens naquele giro constante capaz até de tontear os observadores. Outros se divertiam enquanto esperavam o horário de seu verdadeiro compromisso: um filme ou a missa, já que no leste da praça havia o cinema e, no oeste, a igreja. Assim, nos instantes que antecediam os dois eventos a praça ficava mais animada, se empapuçava de gente conversando, passeando, correndo da água fria. E a fonte jorrava mais forte, alcançando recantos mais afastados. Nesses momentos, parecia surgir junto à água um enorme rosto, de bochechas coloridas se desmanchando de tanto rir, quando o jato caía.
Eu presenciei tudo aquilo, numa idade pequena que ainda não tinha o coração comprometido com as dores de uma paixão. E, sem a intervenção do cupido, tudo era mais simples, mais tranquilo, até mesmo mais alegre. Ao lado dos colegas, sentávamos em um daqueles bancos duros de cimento, numa distância mais segura, longe dos jatos d’água. Divertíamos com aquele alvoroço, com aquele interminável vai-e-vem, com a aparência e o trejeito das pessoas. O cabelo, o nariz, a boca o andado, o sorriso, tudo era motivo de chacota. Ríamos daquelas fisionomias, nos esquecendo de nossa própria feiura.
A praça ainda está por lá, mas a fonte e a alegria das pessoas foram emudecidas. Hoje, quase deserta, ela é povoada apenas pelas doces recordações.
