Para se fazer um bom churrasco e agradar aos convidados, algumas precauções são necessárias como a escolha da carne, o capricho do tempero, a habilidade do churrasqueiro, a altura da música e a temperatura da cerveja. Tudo isso, no entanto, não é suficiente para o sucesso do encontro, para a tranquilidade da reunião com os amigos. Existe uma técnica especial para esses momentos, ainda pouco conhecida, que apresento agora.
Há dois fatores que podem estragar o bom andamento da festa, arranhar o agradável clima do ambiente: cachorro e menino, os que já existem na casa e os que são trazidos. Dificilmente há uma confraternização sem que eles estejam presentes no local correndo, gritando, amolando e esperando ansiosamente o momento do primeiro pedaço de carne ser assado para avançarem sobre ele de olhos arregalados, boca aberta e mãos sujas faltando com a higiene. É preciso até tomar cuidado para que não se machuquem. Os esganados são atraídos pela fumaça e não têm educação para esperar a vez ou até mesmo compartilhar o assado com as outras pessoas. Chegam a passar vergonha ao dono da casa. É um detalhe importante que passa despercebido ao organizador e, se não for levado em consideração, pode “jogar água no chope”.
A solução é bem simples. Basta o anfitrião servir bebida aos adultos, combinar com eles uma espera de alguns minutos e botar fogo no carvão para encher exclusivamente o bucho dos bichinhos em primeiro lugar. Quando os meninos e os cachorros estiverem empanturrados, aí o churrasco verdadeiro pode começar. Viu só? Não é uma boa estratégia? Com a barriga estufada de carne, os cachorros vão se deitar, os meninos vão brincar num cantinho, ligar os celulares e pronto. Acaba a correria e vem o sossego que todo mundo deseja, almeja, sonha. A cerveja fica mais doce e a música, mais suave.
E tem mais. Em se tratando de pessoinhas e animaizinhos que não entendem de carne, qualquer coisa serve: mal passado ou bem passado, de primeira ou de segunda, linguiça ou frango, tudo é devorado em poucos minutos. Assim a parte melhor pode ser reservada para os adultos. E não é maldade. Por que oferecer coisa boa para um amador que não entende do assunto? Um mastigador apressado não vai saber degustar, por exemplo, um naco de cupim mergulhado no sal grosso, não vai saborear como merece uma fatia de picanha amarelada pela gordura.
É isso aí. Churrasco sem cachorro e menino por perto. Uma técnica perfeita para colocar em prática em sua próxima confraternização. Só não deixe que saibam do assunto o Conselho Tutelar e a Sociedade Protetora dos Animais. Bom apetite!