Flamengo é mesmo um time de massa. É a maior torcida do Brasil e, dizem, do mundo. Estatísticas apontam aproximadamente quarenta milhões de adeptos espalhados por aí afora nos grandes centros, nas cidadezinhas do interior, nas cercanias das fazendas. São admiradores de todas as classes sociais, desde os mais abastados até os mais simples jogados nas favelas. Pode-se afirmar sem erros que o rubro-negro carioca é um dos poucos prazeres que restam ao povo brasileiro. Em meio à insegurança, à corrupção e ao aperto financeiro que nosso País impõe aos seus filhos, o time é um alento para o indivíduo que chega em casa depois do trabalho, senta-se no sofá com uma latinha na mão e liga a TV, abrindo um largo sorriso quando adentra o campo aquela fila de jogadores ostentando a camisa dividida em vermelho e preto, que os mais fanáticos denominam de Manto Sagrado. Aqueles que já tiveram a oportunidade de assistir ao vivo um jogo do Flamengo, mesmo com o perigo de não retornar vivo à sua casa após a partida, devido à violência dentro e fora dos estádios, dizem ser uma das maiores alegrias que já puderam presenciar em toda a vida.
Quando a equipe ganha, os torcedores desfilam pela cidade exibindo suas camisas e os sorrisos de satisfação. E se a vitória chega trazendo um título no final do campeonato, acontece até carreata pelas ruas, com buzinas, bandeiras, gritos e foguetes. Os bares colocam mais cerveja para gelar, os açougues preparam mais carne para os inúmeros churrascos da comemoração. Só se vê as pessoas batendo no peito exclamando em alto tom: aqui é Flamengo! Quando o time perde, a alegria não deixa de existir, ela apenas muda de lado, ou seja, vai alegrar o restante da população, pois aqueles que não são simpatizantes do Flamengo torcem contra ele. Dizem as más línguas que todo torcedor rubro-negro é enjoado; assim a derrota é a oportunidade que os adversários têm de descontar um pouco as brincadeiras e gozações que já sofreram. No trabalho são ansiosamente esperados, nas ruas são perseguidos e nas redes sociais são massacrados com várias piadas, inúmeros vídeos elaborados com esmero, esperando apenas a ocasião propícia para o ataque.
A paixão ao time é tamanha que os fervorosos torcedores preferem assistir a uma apresentação do Flamengo que da própria Seleção Brasileira. Naturalmente se há um jogo marcado, naquele horário outro compromisso é dispensado, já que nada há de mais importante. Inúmeras festas, casamentos, velórios já foram preteridos, trocados por um jogo do time, mesmo que seja um amistoso. Dizem que Flamengo é uma religião, e o lema “vencer, vencer, vencer” é levado a sério. Se o time perde duas ou três partidas seguidamente, jogadores são dispensados, cai o técnico, cai até o presidente do clube.
Quer ver um flamenguista bravo é só falar mal do Zico, o maior ídolo do time; agora se quer vê-lo feliz é só cantar para ele um trechinho do hino do clube. Os torcedores das demais equipes não deixam transparecer, mas certamente reconhecem que essa paixão rubro-negra é digna de apreço e merece até um estudo maior. Aqui é Flamengo!