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Miguel Patrício -

BANDEIRA DO DIVINO

Bateram palmas lá fora. Apressei-me em atender já que raramente aparece uma visita. E não era uma visita qualquer: Deus estava no portão. Eu explico. Um homem, com um leve sorriso no rosto, sustentava na mão direita uma bandeira do Divino Pai Eterno. E perguntou se eu a aceitava.

O estandarte retangular tinha a estampa de Jesus Cristo, desenhada com esmero, ocupando a parte central. Várias imagens de diversos santos ocupavam os espaços vazios. Junto a elas, eram exibidas fotos de algumas pessoas agraciadas com milagres ou que buscavam a santidade necessária para consegui-los. Adornando a estampa, inúmeras fitas de tecido, vermelhas e azuis, desciam do suporte de madeira, balançando ao vento seu pedido mudo para entrar em nossos lares.

Eu já conhecia o costume e estendi as mãos acolhendo a bandeira e passando-a, com cuidado, por entre as grades do portão. Os santos vieram todos juntos. Era a resposta positiva que o homem esperava de mim, e ali ficou aguardando minha volta. Com a bandeira à frente, caminhei por todos os cantos da casa, como se a mostrasse para os cômodos ou como se mostrasse os cômodos a ela. Quartos, sala, cozinha, banheiro, quintal, tudo fora ungido e abençoado pelo Divino Pai Eterno representado ali por aquele enfeitado pedaço de pano. Rápida oração recitei em pensamento, agradecendo aquela ilustre visita em minha residência. Rápida, pois o homem esperava lá fora.

De volta ao portão, a bandeira foi devolvida ao seu dono, mas com a certeza de que parte dela havia ficado em cada espaço de minha casa. Algumas moedas ofereci em agradecimento. Ofertei de bom grado, pois sei que a fé, e não o oportunismo, é que move algumas raras pessoas a saírem por aí de casa em casa levando bênçãos e esperanças aos descrentes habitantes da cidade. A maioria cumpre votos feitos em horas difíceis de suas vidas e atendidos pela infinita bondade Divina.

Que bom as bandeiras ainda vagarem por aí. Que bom ainda serem recebidas por nós. Isso mostra que, apesar de todas as agruras, de toda a maldade e ambição do homem, a fé ainda vive em nosso meio e, com certeza, nos guiará para dias melhores. O pendão se foi, mas até agora sinto um gostoso cheiro de paz que ficou impregnado nas paredes da casa...

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