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Miguel Patrício -

BARULHO DE VIZINHO

Tem barulho que incomoda, tem barulho que incomoda muito, tem barulho que incomoda mais e tem barulho de vizinho. Este último é difícil de suportar! São ruídos constantes, rotineiros, chegam já de manhãzinha, às vezes seguem até tarde da noite e, por serem sempre os mesmos, vão irritando, irritando, causando antipatia.

E vizinho é um bicho estranho. Ele pensa que pode fazer tudo o que quiser em sua casa, já que a propriedade é dele. Esquece-se dos bons modos, da boa conduta, da postura de gente civilizada. Ele cria papagaios, galinhas, cachorros e esses animais tiram o sossego das pessoas mais próximas. Cachorro é o pior de todos, já que late por qualquer motivo. Se há apenas um, late de solidão; se há dois ou mais, brigam e causam o maior alvoroço. E o dono aumenta o alarido gritando para que calem a boca. Vizinho liga a TV na sala e coloca o som na altura que pode ouvir também da cozinha, do quarto, do quintal. Só desliga para escutar música. Assim obriga a gente a engolir o entediante sertanejo universitário, umas composições mal feitas, de melodia pobre, interpretadas por vozes chatas e irritantes. Pior fica se o confrontante resolve ouvir o som do carro, pois aí coloca no último volume para mostrar para todo o bairro a potência que o equipamento do seu veículo possui. Ainda tem o tal de ar condicionado. É uma boa invenção, mas só para quem está dentro da casa. Enquanto o dono fica livre do calor, o aparelho funciona pregado num buraco da parede, voltado para a direção da residência ao lado. É um zunido intermitente, ininterrupto e progressivo que vai te enchendo a cabeça, aumentado sua sofreguidão, podendo te levar à loucura. É por essa e outras que os muros das propriedades estão cada vez mais crescidos.

Há vizinhos que falam alto e aquela voz, com o passar do tempo, começa a ser odiada, chega a causar náuseas. Há aqueles que discutem, recitam palavrões, contanto para todos da redondeza as suas desavenças. Eles não se “tocam”, não têm respeito com os outros moradores. A algazarra se intensifica quando surgem as datas comemorativas. Natal, Ano Novo, carnaval, fim do horário de verão, dia da sogra, dia de qualquer coisa. Aí a coisa fica preta. Cachaça, cantoria, conversa, risada, grito... toda falta de educação possível infesta o ar. A farra começa cedo, prossegue durante o dia, alcança a noite e vai madrugada a fora. Não desconfiam do incômodo, nem imaginam que alguém pode estar na área ao lado, no quintal debaixo de uma sombra tirando uma soneca, tentando ler um livro, estudando, trabalhando. A gente não fala, mantendo o bom relacionamento, não criando inimizade. Prefere entrar em casa, fechar portas e janela, tentando encontrar um pouquinho de paz, mas vive chateado com a falta de respeito dos viventes do outro lado do muro.

Há um ditado que diz: Os incomodados que se retirem. Assim, quando a paciência chega ao limite, o jeito é “pôr a viola no saco” e arranjar outra casa para morar, torcendo para que a boa sorte lhe dê vizinhos mais tranquilos, mais educados, e que o lugar não tenha por perto um boteco, uma feira, uma igreja ou uma casa de mulheres duvidosas. Não é uma tarefa fácil!

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