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Miguel Patrício -

DESTINOS

Estranho é chegar a um local onde você não conhece ninguém, onde ninguém lhe conhece. Parado, você fica a observar as pessoas que passam, cada qual com um destino já traçado de manhãzinha ao acordar, ou traçado no início do ano após o Reveillon, ou ainda traçado durante os primeiros meses de feto, ninguém sabe. O que se sabe é que, em cada um, há uma missão a cumprir, um objetivo a alcançar, numa história que se faz a cada dia, a cada hora, a cada minuto; numa história que se faz junto às pessoas – algumas com participações decisivas; outras, secundárias, e outras ainda como meras coadjuvantes, ilustrando a caminhada, povoando a trama, remexendo a lama, desfazendo a cama.

E as pessoas passam. Aquela, por exemplo, é simples, humilde no vestir, desajeitada no andar; a outra é espigada, altiva, confiante, postura esta sustentada pela marca na roupa, pela roupa de marca que usa, que abusa. Uma olha a outra. Que conclusões são tiradas? Você daria tudo por seus pensamentos. Não se sabe qual se escandaliza, qual se comove, qual se revolta. Não se sabe qual sorri, qual se reprime. Não se sabe qual é melhor, qual é pior, qual é mais feliz... O mundo é marcado por diferenças. Outras passam e o tempo passa, pra lá e pra cá, como as pessoas, cumprindo o seu destino, comparando-se a outros tempos – deste e dos outros mundos – não se sabe qual é melhor, qual é pior, qual é mais feliz...

Você olha e quase nada vê, já que quase tudo é oculto aos olhares comuns como o seu. Mil segredos descem repentinamente dos céus sufocando as pessoas, rondam as casas, rolam pelas ruas e se perdem no esgoto. Mil respostas fogem na poeira que sobe, se desprendem das árvores no balanço do vento, mudam de telhado e se escondem feito pequenos répteis nos buracos e becos da ignorância humana. Você olha e pouco entende, pouco compreende. Por instantes se desespera, mas logo se recupera, pois se lembra de sua pequenez, se convence de seu mero personagem - um coadjuvante na vida - se conforma, enfim, de ser apenas gente. E vai cumprir o seu destino já traçado de manhãzinha ao acordar, ou traçado no início do ano após o Reveillon, ou, quem sabe...

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