Nos últimos dias, eu venho sentindo uma dor constante nas pernas; uma dor de origem desconhecida. Inicialmente pensei que seria resquícios de esporádicas caminhadas no fim da tarde para manter a forma, depois imaginei que o problema se devia à falta de alguma vitamina em minha alimentação e, por fim, já estava crente que o caso tinha relação com o meu já avançado número de primaveras. Nada disso. Finalmente descobri que a dor é proveniente da modernidade, da evolução da tecnologia, é simplesmente dor de whatsapp.
Eu explico. Como a dor era mais intensa no início da noite, passei a observar minhas atitudes durante o dia. Com surpresa percebi que passo vários e longos minutos em pé olhando as mensagens que chegam através do whatsapp. Se estou caminhando pela sala, no corredor, na calçada e a musiquinha anuncia novo recado, paro imediatamente para ver do que se trata, para saber quem se lembrou de mim. A curiosidade é tamanha que não dá para chegar ao destino, achar uma cadeira ou um sofá e tranquilamente deslizar o dedinho no celular. Parece que fico anestesiado, nesse momento nem percebo o que estou fazendo. Ali permaneço em pé, clicando, lendo, ouvindo e respondendo meus contatos. E a dor nas pernas só aumentando.
O pior é que a maioria das mensagens é coisa que não presta. No entanto me agrada e fico ali preso ao aparelho, de cabeça baixa, sem saber o que acontece à minha volta, com um ar de inigualável felicidade. Quando estou nas ruas e me recordo que tenho pressa, talvez um horário marcado, deixo seguir os meus passos na direção estabelecida, mas sem tirar os olhos do vídeo que já botei para rodar. E vou me distorcendo das pessoas, dos postes, dos automóveis apenas por instinto, tropeçando nos desníveis do caminho. Se alguém me cumprimenta, eu estendo mecanicamente as mãos sem mesmo saber de quem se trata e sigo, caminhando, parando às vezes, acelerando de acordo com o ritmo da música que ecoa do aparelho. Assim vou, ou não vou, sempre com as frequentes dores nas pernas.
Seria muito mais fácil chegar primeiro ao local determinado, acomodar numa poltrona para depois me dedicar a tal caixa de mensagens; mas não, teimo em ficar por aí em pé, parecendo bobo com o celular nas mãos e as dores se intensificando. E, naturalmente, sem olhar em volta, me torno presa fácil para um delinquente qualquer levar minha carteira e até o precioso aparelho eletrônico. Meu conforto é saber que não sou o único a sofrer dessa doença. Existem inúmeros como eu parados nas esquinas, em pé, com um celular nas mãos e um nariz de palhaço na cara. Esse é o preço que pagamos pela evolução que chega rapidamente sem dar tempo de nos preparar psicologicamente para recebê-la.
Bem, agora que sei a gênese das dores nas pernas, não preciso ir ao médico, eu mesmo posso me curar. Basta conter um pouco o fascínio, o entusiasmo com essa perigosa modernidade. Com esforço, talvez eu consiga, mesmo que seja a longo prazo, me livrar dessa terrível dor de whatsapp.