Não sei se acontece com você, mas comigo é assim: não consigo me afeiçoar como devia a todas as pessoas que conheço. Há sempre alguém que não me relaciono, tem alguma coisa que atrapalha, nossos santos não batem, há sempre alguém que não consigo engolir...
Já li a respeito e não encontrei uma explicação plausível, mas ouço dizer que uma pessoa pode nutrir por outra o que se chama de incompatibilidade de gênios, ou seja, não se dá bem com a maneira de ser desse semelhante, suas ideias, seu modo de agir, de falar. É uma explicação aceitável, já que é natural não se identificar com todo mundo; não se consegue agradar e nem ser agradável a todos. O problema é que comigo a coisa é mais profunda. Eu não vou com a cara da pessoa sem nem mesmo conhecê-la, sem saber suas intenções, sua filosofia de vida. Às vezes nem chego a ouvir sua voz e já me antipatizo com ela. Desde a primeira vez em que a vejo, faço a minha leitura e chego à conclusão de que ela não pode fazer parte de minha vida, do meu círculo de amizades, do meu grupo de mensagens pela internet. E aí até passo para o outro lado da rua quando ela surge lá na frente caminhando em minha direção.
Não é caso de discriminação ou coisa parecida, pois não me considero uma pessoa maldosa. Lógico, tenho meus erros, meus defeitos, mas como diz Antônio Marcos em uma de suas canções: “Eles são tão pequenos, dá pra perdoar”. E é por isso, ciente do meu bom coração, que me espanto; não consigo entender a minha repulsa a um semelhante sem haver motivo algum. Naturalmente a gente costuma se afastar um pouco das pessoas chatas, derrotistas ou que não sabem escolher um bom “papo”, mas a gente suporta em nome da boa educação. Particularmente detesto as pessoas “grudentas” que, ao te encontrar, não se contentam com um “olá”, é preciso que a gente pare, pegue na mão, responda a alguma pergunta banal, ouça uma anedota, antes de conseguir se desvencilhar do assédio e ir embora. Porém, até com essas, costumo dispensar um pouco de minha atenção, tento aperfeiçoar nesses instantes a minha paciência. Não são dessas que eu falo. Isso não configura a incompatibilidade de gênios, ou pelo menos não é o tipo de antipatia a que me refiro.
Alguns mais entendidos dizem que esses casos provêm de outra vida, de uma existência passada em que algum atrito, alguma desavença aconteceu entre essas pessoas e que, por coincidência ou não, se encontram novamente agora. Pode ser, não duvido. Mas não é estranho? Como pode a gente não gostar de alguma pessoa sem nem mesmo conhecê-la um pouquinho? Mas acontece e aposto que, neste momento, vários rostos passam pelo seu pensamento, rostos que você não gostaria de ver em sua frente nem mesmo pintados de ouro.