Certo amigo esbanja alegria. Durante o dia todo de todos os dias exibe um sorriso contagiante. Quis saber os motivos daquele contentamento e a explicação foi simples: a felicidade surge espontaneamente, como capim verde em época de chuva, quando o homem não tem mulher, menino e cachorro.
Diante de minha perplexidade, aprofundou o assunto, afirmando que no momento em que você se dispõe a firmar compromisso com uma mulher, a dividir com ela o mesmo espaço, a coisa se complica. A danada entra pela porta e a paz sai pela janela, ou vice-versa. Inevitavelmente aparecem os ciúmes, as discussões, as dificuldades financeiras, a sensação de que ela nunca está contente e que a vida não vale nada. Nem precisa dizer, mas a senha do seu celular tem de ser trocada toda semana.
Em seguida, vem o pior: sua cara-metade revela o grande sonho da vida dela e, quer você queira ou não, arranja um menino. Não tem conversa; se ela não pode ter, adota um. Aí acabam as horas de sono, a cerveja e o jogo do Flamengo. As despesas aumentam, pois além do necessário tudo que ela vê de bonito tem que comprar pro moleque. Assim, você é colocado em segundo plano, e os seus planos da praia, da pescaria, da troca de carro e outros mais vão por água abaixo.
Para completar, quando o menino engatinha, a mulher arranja um cachorro. Você pode apresentar todos os desarranjos e contratempos que o animal vai trazer para a casa, mas é vão. Ela argumenta que a criança necessita de companhia e que o seu crescimento será mais profícuo e humano. Nem sei o que é profícuo. São apenas palavras bonitas que na verdade se revelam em mais gastos, mais barulho, mais problemas, menos higiene, menos harmonia, menos tranquilidade.
Então, se você quer ser realmente feliz deve conduzir sua vida sem fortes ligações com esses três elementos. O procedimento não exclui um namorico vez em quando com uma representante do sexo feminino, mas sem chances de compromisso. Não te proíbe afeiçoar-se a uma criança, oferecer a ela um pirulito, fazer bilu-teteia, mas somente com aquelas dos amigos, parentes e vizinhos. E o cachorro pode ter sua admiração, seus bons tratos sempre dispensados aos animais, aos animais distantes, bem distantes de sua residência.
Taí o segredo. A felicidade não se trata de um estilo de vida voltado para o cultivo das virtudes como definiu Aristóteles; não depende da sorte, do amor, do sucesso, da conquista de bens materiais e nem está ligada ao transcendente. Nenhum filósofo conseguiu essa definição, essa receita estampada no rosto do meu amigo: a felicidade completa só existe na ausência de mulher, menino e cachorro. Eu assino embaixo!