Incontáveis poemas de beleza singular se tornaram imortais para todos nós, apreciadores da boa literatura, graças à mente criativa de grandes escritores como Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Cora Coralina e muitos outros. Entretanto, é de um autor desconhecido o poema que mais tocou meu coração. Para mim, supera todos os outros. Não estava exposto em um livro, revista, jornal ou qualquer página numerada. Eu o conheci numa pescaria, seguindo o curso de um riacho que se aventurava sob uma ponte. Lá estava ele, escrito na força do atrito de uma pedra com o cimento da construção que sustentava a estrada:
“Se puta fosse canhão
e viado fosse fuzil,
Puta que pariu!
Goiás defendia o Brasil.”
Sua dimensão reduzida não reduz seu encanto. É mesmo um achado poético de rara inspiração. Traz como tema a natureza volúvel das mulheres e a preferência sexual duvidosa dos homens de nossa terra. A comparação da prostituta e do homossexual às armas é o ponto de origem necessário para o desenvolvimento da estrofe. A partir daí a mensagem expressa na composição passa a ter sentido. Como todo poema, traz uma hipérbole, ou seja, um exagero de significação levando o caso ao ponto de apenas dois representantes de nossa vasta sociedade formarem um exército suficiente para, numa eventual necessidade, proteger nosso País de qualquer perigo.
O terceiro verso é digno de análise, já que aparece solto na estrofe e parece sem sentido. “Puta que pariu!” Ele é perfeito! Tem uma função de significativa importância. Além de unir a primeira parte do poema ao seu surpreendente desfecho, eleva o valor dos personagens, ou melhor, do número deles. É o que se chama nas composições de ponto de equilíbrio. E por falar em ponto, o ponto de exclamação que acompanha as palavras exibe aqui um de seus mais autênticos espantos.
Para vencer o gosto apurado das críticas, toda produção poética necessita ser original e criativa, características inatas do poema em questão. Não falta a ele originalidade, já que ninguém viu por aí algo parecido, e criatividade é o que mais possui. O autor deixa livre ao leitor a possibilidade de mudança do estado de Goiás para outro qualquer da Federação ou até mesmo para uma cidade, se este assim o desejar. Veja só: “Minas Gerais defendia o Brasil” ou “Goiatuba defendia o Brasil”.
É verdadeiramente um épico poema! Talvez trágico, mas seguramente cômico deixa em nós apenas um pequeno dissabor: a impossibilidade de sabermos, um dia, o seu autor. Na ponte não havia assinatura ou qualquer indício de quem o elaborou. Bem, nem tudo é perfeito...