O calendário brasileiro é constantemente censurado devido ao número de feriados que todo ano apresenta. Vários críticos julgam excessivos os dias coloridos de vermelho nas folhinhas que chegam à população. Consideram esse tempo improdutivo e argumentam que os sucessivos descansos impedem a prosperidade do País e contribuem para tornar a população mais preguiçosa. Será mesmo? Penso que o caso merece uma boa reflexão.
Esse discurso pertence àqueles que colocam o trabalho em primeiro plano, esquecendo-se das necessidades e principalmente das prioridades de cada pessoa. Analisam como mais importantes as atividades que visam apenas retorno financeiro, mas nem todos pensam como eles, inclusive eu. É preciso tempo também para viver, e certamente viver não significa acumular riquezas, mas ter o suficiente para o conforto, educação, saúde e lazer da família. Desse modo, os feriados são mais que importantes, são necessários. Funcionam como um pêndulo para equilibrar as horas de serviço e os momentos de descanso contribuindo para a manutenção saudável desse estilo de vida.
Não se discute a necessidade do labor no intuito de suprir as precisões e, se possível, guardar certa importância para uma eventual necessidade; mas é primordial que haja espaço para as atividades que enriquecem a alma. A visita aos parentes e amigos mais próximos não pode ser constantemente adiada. A adesão ao projeto que auxilia os mais necessitados de sua comunidade não deve ser suspensa. A caminhada do fim da tarde, a academia, a consulta médica não merecem ficar em segundo plano. As praias, os campos, os rios não existem apenas em época de férias; estão ali nos esperando e quase sempre não temos tempo para eles. Na verdade, não temos tempo para nós.
Estados Unidos, Japão, China são conhecidos, entre outros, como países que aproveitam melhor, entre aspas, os dias de seus calendários, mas a pergunta é: são mais felizes por isso? Por aqui pensamos que o trabalho não é tudo e que a felicidade é conseguida através de um conjunto de atividades, de práticas que se completam por uma vida melhor. Assim, essas nações não servem de exemplo para nós. Na verdade, imagino que sentem uma grande inveja de nosso povo, de nosso modo de viver, de nossas folgas sucessivas.
São hipócritas aqueles que criticam nosso calendário por ser assim generoso. Os dias livres são ansiosamente esperados, principalmente quando se juntam aos finais de semana. São excelentes oportunidades para um passeio ou simplesmente para ficar em casa, de chinelo, no sofá. Vida longa aos maravilhosos feriados brasileiros!