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Miguel Patrício -

PESCARIA IMPROVISADA

Éramos três. A pescaria fora planejada de última hora e, consequentemente, improvisada. Ganhamos uma carona de ida e que só nos buscaria três dias depois. Uma barraca para o sono, um toldo para a cozinha, a tralha de pesca, a compra no supermercado e só. A lei de Murphy se encarregaria do restante.

Um dos companheiros, metido a ambientalista, entrou na mata e voltou com galhos de árvores que, segundo ele, não pertenciam às madeiras de lei e logo construiu uma pequena mesa onde foram depositados os alimentos adquiridos na saída: arroz, carne, ovos e tomates, que seriam reforçados com os peixes que haveríamos de fisgar. Parte dessa compra encontrava-se numa caixa de isopor com gelo para a conserva. Parecia tudo certo, mas era engano.

A tragédia aconteceu antes mesmo do almoço naquele dia. Depois de montar o acampamento, seguimos o barranco do rio em busca dos peixes, quem sabe já para essa primeira refeição. Passou-se pouco mais de uma hora e, quando voltamos, uma surpresa nos aguardava: um caos estava instaurado em nosso reduto. Havíamos acampado nas proximidades do mangueiro de uma fazenda e os porcos invadiram o local colocando tudo abaixo. Podia-se contar mais de trinta animais que se amontoavam, trombavam e gritavam em busca dos restos de nossos alimentos. A mesinha, feita com tanto carinho, havia sido destroçada. Comeram tudo que encontraram. Tudo, até a caixa de isopor!

Os peixes que pegamos foram jogados na panela junto a um tempero retirado de uma latinha que, por sorte, havia sido pisoteada e afundada na areia. No restante do dia, nada se comeu. Pensamos em abater um dos porcos, mas não conseguimos pegar; tentamos retirar o miolo de uma planta parecida com a guariroba, mas os espinhos nos impediram. À tardezinha, tivemos a ideia de procurar comida na densa mata ao redor, e seguimos com a barriga roncando de fome. Após um bom tempo de caminhada, encontramos uma roça de milho. Foi a nossa salvação! As espigas estavam no ponto e levamos um eito para o acampamento. Comemos milho assado à noite, no café da manhã, no almoço, no café da tarde, no jantar, de madrugada, sempre que a fome apertava nos dois dias seguintes de espera.

Quando o automóvel que nos buscaria surgiu lá na curva da estrada, já caminhamos em sua direção com as tralhas nas costas para adiantar a nossa volta à civilização. Um saquinho de bolacha de sal, no banco traseiro, foi disputado por nós como se disputa uma bola naqueles jogos de futebol americano. Uma pescaria improvisada, mas inesquecível! E, feito aqueles filmes de terror que sempre têm um susto no final, a esposa do nosso amigo ambientalista havia feito para ele no jantar o milho cozido que tanto gostava. Na direção dessa panela, ele nem olhou!

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