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Miguel Patrício -

POR TRÁS DAS ANEDOTAS

Não há dúvida de que o povo brasileiro é alegre, divertido e está sempre de bom humor. Qualquer motivo serve para fazer uma graça, uma piadinha com os amigos, com o povo, com o País. Até mesmo nas situações de desgraça, as brincadeiras acontecem e parece que em maior número ainda. O importante é brincar, não importa com quem, não interessa qual seja o motivo. Tenho um companheiro que afirma sempre: “Perco o amigo, mas não perco a oportunidade”.

E agora com o advento da internet, tudo ficou mais fácil. Os “memes” se multiplicam numa velocidade inimaginável, levando consigo os gracejos, a alegria de ser brasileiro. Isso mesmo, dizem por aí que em nenhum outro país se faz o que fazemos; ninguém leva a vida assim numa boa. O nosso talento cômico se mostra realmente inesgotável; parece que somos predestinados ao sorriso.

Tudo serve para virar piada. Há pouco tempo a “Caneta azul”, depois as enchentes e o carnaval, agora o coronavírus... Vira e mexe o presidente, o ex-presidente, todo político que pise na bola, a própria bola e os boleiros. Parece estar tudo bem, mas há um problema nessa história: o povo não se informa verdadeiramente da situação do País, não participa, não cobra, não se manifesta, e enquanto se diverte nas redes sociais sofre as consequências de sua omissão.

E isso é sério. Seria conveniente mudar a nossa prática. Não se trata de jogar fora a alegria, mas de ir além dela. É preciso saber o que está acontecendo e perguntar a si mesmo o que pode ser feito para o sucesso do que é bom e se opor ao que acontece de ruim. Sem a nossa participação, os espertos tomam conta do poder, se enriquecem de forma ilícita e, mesmo descobertos, continuam sem impunidade.

Há um provérbio que diz: “Condene-me pelo excesso, mas não me julgue pela omissão”. O momento da sociedade requer presença, exige oposição. Dessa forma, não se esconda por trás das anedotas enquanto o País segue um incerto caminho.

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