A greve nossa de cada dia
Não é o objetivo aqui criticar os atuais governos, quer seja do Estado ou Federal, mas compartilhar algumas constatações.
Segundo um renomado Jornalista, o brasileiro tem síndrome de vira-lata, isto é, se açoitado agora, daqui a algum tempo já festeja qualquer pequeno agrado ou algum estalar de dedos.
É exagero, mas muitas coisas só acontecem por aqui.
Recentemente, uma senhora foi declarada morta e guardada viva por quase três horas em uma gaveta da câmara frigorífica de um hospital no Rio de Janeiro onde, também, um senhor morreu aguardando atendimento dentro do carro, porque não tinha maca para conduzi-lo para o interior.
Os funcionários dos correios estão em greve e os bancários também.
É sempre assim, quando “eclode” qualquer greve, o povo sempre paga o pato.
Se, na saúde, são os necessitados que ficam sem atendimento, morrendo dentro das ambulâncias ou nas salas de espera; se no transporte, os que usam os “coletivos” é que ficam privados do direito de locomoção habitual; no caso dos correios, ficamos sem as correspondências, mesmo que sejam medicamentos importados (como ocorre), ainda que o paciente morra pela falta deles.
Já ocorreram greves nas Polícias, no INSS, na Receita, na Educação, nos Bombeiros, com os Caminhoneiros, Petroleiros, Aeroportuários, enfim...
Recentemente instalou-se a greve entre os servidores do Judiciário do Estado de Goiás.
A constituição Federal e a Lei Ordinária dizem que o cidadão não pode ser privado dos serviços essenciais e que um efetivo fracionado tem de revezar para garantir atendimento ás necessidades vitais da população.
Mas isso não ocorre, aliás, no hospital do Rio de Janeiro, nem havia greve e até mesmo mais o básico, o sagrado, o mínimo que se espera foi negado às pessoas.
Ao contrário ou em desatendimento ao que diz a Lei, é sempre o povo quem paga todas as faturas, todos os dissídios e desentendimentos entre governantes ou categorias, o resultado final sempre é imputado aos contribuintes, além dos transtornos e humilhações ocorridas durante o período de greve.
Nada contra o “direito de greve” às greves, em especial à do SINDIJUSTIÇA (dos Servidores do Judiciário do Estado de Goiás) que, aliás, conta com o apoio da maioria dos seguimentos organizados da sociedade, inclusive causa preocupação à OAB.
Na verdade e é bom repetir à exaustão que o objetivo não é questionar o direito de greve e nem lançar ou fixar culpas ou responsabilidades, é apenas um desabafo, um convite à reflexão.
É que não possível entender é porque tal ocorre tanto, e a motivação pela qual o único meio de pressionar a quem de direito é penalizando a população.
Em quaisquer outros países de IDH aferido em quantitativo inferior ao índice atribuído ao Brasil, ou até mesmo em países tidos como ricos e desenvolvidos, os maiores confrontos derivam de questões ideológicas ou ajustes fiscais e modificação dos sistemas de previdência.
E, o pior de tudo é assistir na TV todos os dias, o governo afirmar que, para garantir atendimento de qualidade à saúde haverá de ser criado mais um imposto, especificamente, sobre operações financeiras, na prática a ressurreição do famigerado “Imposto do Cheque”.
Não bastasse o fato de trabalharmos cinco meses por ano para pagar impostos, hoje (quase a metade do nosso esforço é consumida em tributos), se fala em mais este encargo, a ser lançado nas costas dos brasileiros, que já padecem com a maior carga tributária do planeta.
Eu estou começando a crer que o eleitor brasileiro não tem, na verdade, a síndrome do vira lata, mas espírito de ovelha.
Não raro, o brasileiro permanece em silêncio diante do próprio sacrifício ou da imolação moral, como a de ter um parente morto ou desprezado pelo poder público, em especial o sistema de atendimento à saúde pública.
Em todas as partes do mundo a insurgência popular tem poderes suficientes para mudar por completo o destino da população, até mesmo banir regimes políticos ou o totalitarismo.
Em suma, o eleitor brasileiro compra a preço de caviar a farofa com torresmo aludida no belíssimo samba de Zeca Pagodinho, e outros, desfrutam do caviar com champanha, pagos ao preço de farofa, levando o torresmo de bônus.
Filemon Santana Mendes é Advogado e presidente da OAB, subseção de Goiatuba