Polícia Civil deflagra “Operação Dilúvio” e liberta internos
A Polícia Civil de Goiatuba em uma ação conjunta com o GENARC de Itumbiara deflagrou “Operação Dilúvio” para apurar denuncias de sequestros, maus tratos, tortura, cárcere privado, falsificação de documentos e uma série de outras irregularidades contra duas clinicas para dependentes químicos que funcionavam de forma irregular no município de Goiatuba.
A operação contou com grande aparato policial e também integrantes da Vigilância Sanitária que constataram a insalubridade dos ambientes que foram interditandos. A ação policial também culminou na prisão de Caio Lúcio Soares Costas, Alexandre de Jesus e Álvaro Silvério de Oliveira Júnior e libertação de mais de 80 pessoas que viviam nos dois ambientes. Nos dos locais as autoridades encontraram medicamentos, receituário especial para medicamentos controlados e carimbos de médicos que nunca estiveram no local, além de arma de fogo e munição.
Segundo os delegados Ricardo Chueire e Gustavo Carlos Ferreira que comandaram a operação, “isso aqui não é uma clinica, é um campo de concentração”, revelaram. Dr. Gustavo ressaltou que tanto ele quanto Dr. Ricardo, ambos com cerca de 10 anos de profissão ainda não haviam deparado com situação semelhante, “tem cerca elétrica de 3 metros de altura ligada à rede de 220 volts, eles bebiam a água que era usada na limpeza da casa, comiam arroz e banana. Aqui era um verdadeiro depósito de pessoas”.
Na clinica que funcionava na Fazenda Santana, entre Goiatuba e Panamá, foram encontradas 59 pessoas que segundo à Polícia não eram internos e sim “detentos”. Já na outra unidade que funcionava na Rua Piauí, numa chácara próxima à GO – 320, estavam outras 26 pessoas, a maioria de outras cidades, inclusive do Tocantins e Triângulo Mineiro. Entre os internos 5 eram menores.
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Internos denunciam tortura e ameaças
Os internos libertados pela Polícia denunciaram em seus depoimentos que sofriam diversas agressões, sendo inclusive a trabalhos forçados e a cavar buracos para serem colocados dentro como forma de castigo.
Alguns internos mostraram aos policiais vários hematomas e dentes quebrados após sofrerem agressões. A vigilância constatou que o ambiente tinha apenas um banheiro e que quase 60 pessoas dormiam em apenas 4 quartos.
Segundo internos da unidade próximo à cidade de Panamá, eles eram obrigados a comer arroz branco e banana, ficando cerca de 60 dias sem consumir carne. Na unidade urbana, os internos revelaram que as refeições eram de arroz branco, feijão, fubá e pescoço de frango.
Famílias pagavam por internação
Conforme relato de alguns internos, suas famílias pagavam até R$ 750,00 por mês para custear o “tratamento” nas clinicas. Sendo que a taxa de entrada chegava a R$ 1.300,00. Eles denunciaram ainda que os coordenadores das clinicas manipulavam as famílias para ampliar o tempo de permanência do interno na clinica, que eram obrigados a ficar mais do que os 9 meses necessários para o tratamento.
Presos não terão direito à fiança
Segundo o delegado Gustavo Carlos Ferreira, os responsáveis pelas clinicas Caio Lúcio Soares Costas, Alexandre de Jesus e Álvaro Silvério de Oliveira Júnior, presos na operação, serão autuados em flagrante por diversos crimes, sendo que tortura é considerada crime hediondo e, portanto, inafiançável.
O trabalho da Polícia se estendeu por todo o dia com a tomada de depoimentos de internos e também a realização de exames de corpo de delito nos presos. A Polícia precisou de um ônibus para remover os internos das Clinicas e contou com o apoio da Assistência Social para adquirir alimento para mais de 80 pessoas que viviam em condições precárias.