Feliz Dia dos Professsores?
Por: Prof. Divino Alves de Sousa
Inicialmente peço licença ao colega prof. Marcos Neiva Crispim para usar retalhos do seu trabalho, publicado recentemente no jornal Diário da Manhã.
Em 2013 completei 31 anos de escola, não como aluno, mas como professor, atividade que escolhi consciente do que estava fazendo, obedecendo um impulso do coração e da alma. Segui uma forte intuição que me apontava o ideal de educar. Ao contrário de muitos colegas de profissão, não fui lecionar temporariamente, até aparecer alguma coisa melhor. Entrei de cabeça, como se diz, escolhi a sala de aula como atividade principal do meu ganha pão. Renovei-me a cada dia praticando o magistério, nutrindo-me diariamente da curiosidade dos meus alunos. Adoro o processo de aprendizado, fico fascinado pelo brilho dos olhos daqueles que aprendem o novo, descobre o diferente, decifra o inusitado. Por muitos anos lecionei, química, física e biologia. Passaram em minhas mãos alunos e alunas diversas. Há alguns consegui ensinar algumas fórmulas, cálculos e combinações. A outros, nem tanto. Mas é maravilhoso encontrar ex-alunos que passaram por minhas aulas e de alguma forma se inspiraram em mim para optar por uma profissão, mas ao mesmo tempo é frustrante saber que a determinado educando não consegui transmitir o pouco conhecimento que possuo.
Mas nem tudo são flores na espinhosa missão de ensinar. Dói na alma saber que um ex-aluno abandonou os estudos. Deixou-se levar pelos caminhos do vício e do desamor. E pior, tornou-se bandido e lembrando-me da reação de pais e mães diante de tantos filhos ingratos, me pergunto: onde foi que errei?
Nos dias de hoje não se vê aquele brilho nos olhos dos alunos, a curiosidade, a vontade de aprender. Os alunos, de modo geral, não se mostram interessados ou abertos para se envolverem no processo educativo. Por mais que me esforce, não consigo mudar o ânimo dos meus alunos. Estou perdendo de goleada para o facebook, para os programas de televisão, para o som da moda, para os filmes de românticos vampiros. Começo a perceber que sofro uma concorrência desleal e injusta e me recuso a apelar a métodos de professores palhaços, cantores ou atores, que contam piadas, cantam músicas ou encenam peças de gosto duvidoso, mas o problema é: como agir diante dessa geração videogame/internet?
Sinto-me na contramão da vida. Não é fácil manter a chama acesa depois de 31 anos de magistério. Mas continuo firme (?) dando murro em ponta de faca, esperando uma aposentadoria que não chega nunca, enfrentando o desdém de alunos que não veem a hora de mergulharem em seus pequenos mundos informatizados.
Nesse dia dos professores, fico coçando a cabeça, buscando na memória o motivo por que foi mesmo que comecei a dar aulas. Lembro-me dos mestres: Dona Dalva Giordani Garcia, Dona Irene Rosa, prof. Ivã e sua esposa Maria Helena, inspiradores da minha escolha profissional.
Estou cansado. Ainda mais depois de passar por uma situação como essa: explicar o conteúdo com todo entusiasmo e ao final, um aluno levantar o dedo (quanto orgulho, prestou atenção e vai fazer alguma pergunta ou comentário) e ouvir – “professor agora posso ir no banheiro?”.
Divino Alves de Sousa, é professor de Educação Física nas redes estadual e municipal em Goiatuba