A Arte de Falar ao Telefone
Desde que foi usado por Graham Bell pela primeira vez, o aparelho telefônico passou a ser um motivo de alegria do ser humano. Muitos não se distanciam dele para nada, nem mesmo para tomar banho. O pequeno brinquedo descansa alguns minutos num cantinho sobre as roupas usadas.
E cada um tem o seu jeito próprio de comunicar. Tem gente que fala e sorri ao mesmo tempo, balança a cabeça, gesticula e se agita. Não dá tempo ao seu interlocutor de pronunciar uma só palavra, só ele tem direito de expressar suas ideias.
Alguns se sentem importantes com o telefone nas mãos e fazem pose das mais diversas: olham para o alto, coçam o queixo, alisam o cabelo com uma das mãos. Sabem que estão sendo observados e não perdem a chance de se mostrar.
Outros impostam a voz como um locutor. Parecem estar apresentando um noticiário em horário nobre da Globo. De longe pode-se ouvir a eloquência da voz. Só faltam as vinhetas e os comerciais.
Ainda há aqueles que falam e começam a caminhar. O telefone dirige-os pela casa, por corredores, pela calçada. Se o espaço é pequeno, giram, desviam das paredes, voltam e reiniciam a caminhada. Não sabem aonde vão, apenas seguem levados pela energia emanada do aparelho. Caminham por horas e o corpo não reclama. Há notícia de pessoas que emagrecem sem saber o motivo.
Assim é a arte de falar ao telefone. Um ritual perfeito que passará escondido, fora do alcance das grandes academias que se encarregam do estudo da evolução humana.
Miguel Patrício é professor, escritor e ator
Contato: miguelpaodemel@gmail.com