Estrela Caída
Dr. Filemon Santana Mendes
O apóstolo Paulo falava sobre um reino onde para os que muito tivessem, que não houvesse tantas sobras, e para os que pouco tinham, ao menos que nada faltasse.
Parece que de um jeito meio esquisito e sob determinado enfoque isso se verifica na realidade, e no comportamento humano.
Em geral, ou na maioria dos casos as pessoas se comportam bem, até mesmo os mais abastados (em regra) evitam excentricidades ou “sobras” dispensadas da fortuna de maneira injustificada e, muitas pessoas cuidam de suas famílias recebendo apenas um salário mínimo por mês e, misteriosamente, conseguem sobreviver mesmo não dispondo de “tudo”, podem ao menos contar com o essencial para que sobrevivam.
Tais reflexos nas condutas humanas são de certa forma inversamente proporcionais, em qualquer pessoa. Muitos ou a maioria, não se perde do foco antes de se deparar com o glamour, os holofotes, a notoriedade, a prosperidade e o poder.
Ainda que muito se suponha, pouco se sabe sobre a motivação, mas o fato é que a iniqüidade sempre beira o poder, o conforto, a notoriedade, a fama, o sucesso e a prosperidade.
É incrível como ocorrem (de fato ou em tese) desvios de condutas por parte de Autoridades e Agentes Políticos.
Ao que parece não é a obsessão ou ambição pelo poder, ou o dinheiro, que impulsionam alguém ao equivoco, à perda do bom caminho. É, na verdade, a presença do poder e do dinheiro que tornam as pessoas vulneráveis.
Independentemente do desfecho que venha a ter, as recentes notícias de suposto envolvimento do senador Demóstenes Torres com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pegou a todos de surpresa, causou espanto e incredulidade generalizados.
Sou particular admirador do Senador, que construiu uma carreira política meteórica, mas lastreada em anos a fio de bom trabalho, Promotor de Justiça dedicado, Procurador Geral de Justiça e Secretário de Segurança Pública do Estado de Goiás, exercendo todas as tarefas com louvor, a ponto de ser conduzido direto, e na primeira tentativa, ao Senado da República, por duas ocasiões com votações mais que expressivas.
Estes bons predicados romperam as barreiras de Goiás, transcenderam ao Parlamento Brasileiro, fazendo de Demóstenes Torres um dos Políticos mais respeitados do Brasil, e agora todos assistem perplexos às interceptações telefônicas divulgadas pelos meios de comunicação, onde o teor é no mínimo inusitado.
Sem qualquer incursão ao mérito das afirmações da imprensa, culpa ou não culpa do Senador, existência ou não, ou grau de intensidade de hipotético envolvimento com a prática ou praticantes de contravenção, o momento é de pensar e agir com serenidade, esperar que tudo seja apurado a contento, já que os fatos, tal como veiculados, por si sós, são um balde de água na fé de muitos.
Em um passado não muito distante, o Senado Federal absolveu o Senador alagoano Renan Calheiros, em caso de igual (se não maior) gravidade, só que do maior partido do país e que compunha a base aliada do Planalto.
No entanto, em matéria de credibilidade geral de todos os brasileiros em si, Renan Calheiros não chega próximo de Demóstenes Torres, e talvez isso sirva para lhe agravar a situação, principalmente agora, sem partido e dissidente de um (partido) que faz ferrenha oposição a um Governo que tem a maioria na Casa.
O que se espera é uma investigação imparcial, quer seja no âmbito da Justiça, quer seja na esfera administrativa, não se punindo nem demais nem de menos.
Sinceramente, e desde tal não signifique adesão à impunidade, ou condescendência nociva, tomara que tudo se resolva da maneira menos gravosa possível para o Senador.
O certo é que não importa o desfecho que tudo venha a ter, apenas os fatos já divulgados já são uma “pré-degola” política e moral, transformam um ícone em uma estrela caída, que não teve apenas o próprio brilho ofuscado, mas que junto com a luz agora opaca, leva para a escuridão da descrença um pouco da preciosa fé que ainda restava no povo brasileiro em relação aos seus Agentes Políticos.
Filemom Santana Mendes é advogado e presidente da OAB Subseção de Goiatuba.