Goiatuba: Um lugar bom de mais de viver
João Bosco Brandão
Estar em Goiatuba (GO) no final de semana, de 04 a 07 de abril de 2008, foi reviver os anos de 1970 em Araraquara (SP). Adolescente, não tinha carro e nem podia dirigir, coisa que não nos importava muito e nem aos guardas de trânsito, uma vez que dois da nossa turma tinham carro, um Aero Willis do Ricardo Toloy, hoje dono de uma academia de hidroginástica e um Gordini do Orlandinho, hoje cirurgião na cidade. Era com esses carros que juntávamos o pessoal e, nas noites de sábado e domingo fazíamos o “footing”, que consistia em subir a Rua 9 de Junho, mais conhecida como Rua Dois, onde estão as principais lojas da cidade e descer a rua São Bento,ou Rua Três, onde ficavam os dois cinemas, hoje um é igreja Universal e o outro uma das lojas Americanas, a praça da Prefeitura e a sede do Clube Araraquarense um palacete construído no final do século XIX, que hoje se chama Palacete das Rosas, pois na frente deste sempre existiu um jardim de roseiras e abria a Casa da Cultura.
Depois do cinema era rodar para baixo e para cima olhando as meninas e sendo olhado por elas. Muito namoro começou no gastar de muita gasolina. Mas eram outros tempos: o do “Milagre Brasileiro” do Delfin Neto, o auge de viver o contra-senso de uma ditadura militar que nos roubava o direito de falar. Gastar gasolina era uma forma de protesto, assim como nas sextas-feiras, depois das 11 horas da noite, se reunir para discutir política e os filmes que assistiríamos na sessão Zoom, criada pelo pessoal da Sociologia da FFCLA, (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Araraquara), ligada à Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) onde, debaixo do medo de ser descoberto, politizávamos todo novato que aderia ao grupo, fazendo-os descer do muro, não antes de uma investigação para saber se não era um infiltrado da polícia ou de outra facção política a favor do governo).
Goiatuba, no final de semana, me proporcionou reviver parte dessa época. A rua Piracanjuba, esquina com a Presidente Vargas, onde estávamos hospedados no Barrocos Hotel, eu e o professor José Eduardo, que veio prestar consultoria à Fafich (Faculdade de Filosofia, e Ciências Humanas de Goiatuba), uma universidade preocupada com a educação, formação e bem estar de seus alunos. Víamos os carros que, depois de descer a Rua Minas Gerais, subiam pela Presidente Vargas onde em três quarteirões, como em Araraquara nos anos 1970, se concentravam mesas nas calçadas, cheia de adolescentes, e muitos adultos que se juntavam para namorar, conversar, “flertar” com os meninos do carro que passava por várias vezes pela rua, com ele ou ela sentados na mesa logo à diante ou até mesmo de quem passava a pé. Jovens e bonitos, aproveitavam o sábado e domingo para namorar, arranjar namorada ou até mesmo apenas “ficar” (como é hoje chamada nossa antiga e gostosa “paquera” – se continuar assim, vou me entregar na idade).
Chegamos sexta-feira, depois de uma viagem de 500 quilômetros, para a partir de sábado pela manhã, estar na Fafich e encontrar a professora Silvana, alegre e bem humorada, com quem conversei por longo tempo, acompanhando o dinâmico e empreendedor então presidente da FESG, professor Alzair Eduardo Pontes e o professor Lino, para uma vistoria às obras do Laboratório de Química e Solos da Universidade.
O almoço foi no restaurante da dona Neusa e seu Mário, que como todo morador de Goiatuba, são cativantes e nos receberam com um sorriso (hábito do pessoal da cidade, além do cumprimento e sorriso recebido de todos os que cruzam com a gente, mesmo sem nos conhecer). Após o almoço, voltamos à Universidade, onde de para quedas, fui parar em uma aula do professor José Eduardo, que discutia a problemática da educação. Acabei entrando na conversa e como jornalista, falei um pouco sobre literatura o ler, o que ler, como aprendi (aprendo e tento até hoje) o escrever, o que ler, por onde começar. Foram duas horas de conversa com jovens de cara alegre, a maioria mulheres - dois homens no meio de 30 alunos -, algumas grávidas, outras já mães que descobrem em meio a seu cotidiano um tempo para o estudar, aprender uma nova profissão ou a primeira, mas com garra e vontade em sair de um marasmo que vejo e muito em grandes cidades no estado de São Paulo.
O Campus da Fafich é um espaço em meio a muito verde, com sua terra vermelho-escura de onde exala um cheiro gostoso de mato e dá uma vontade louca de juntar água, brincar de fazer bolotas de barro e se sujar todo. O pequeno movimento no Campus era por conta da tarde de sábado onde alunos circulavam a espera de entrar em uma nova aula ou hora de ir embora aguardando carona e possivelmente pensando: “será que esse pessoal não vai tirar o pé da minha janta?”.
O término da aula foi com um CD dos Beatles, executado pela Orquestra Sinfônica de Moscou. Ouvindo música e conversando chegamos ao final da tarde para nos preparar para o jantar. Antes disso, uma passadinha pela sorveteria Cerrado Gelado, onde conheci sorvetes de murici, araticum, cagaita e mangustão, todos em forma de picolé.
No jantar, convidados que fomos pelo professor Alzair, na Associação Atlética Banco do Brasil, na entrega do prêmio “Mérito Lojista 2007”, pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiatuba), a empresários de vários segmentos da cidade. Jantar que me fez descobrir a delícia de um prato de guariroba.
Estar em Goiatuba, conhecer professores e moradores foi aprender um novo jeito de ser e viver, além de, na volta para Araraquara, entender que será “difícil demais” e, “não sei se vou dar conta não”, e não dei mesmo, ficar muito tempo sem voltar a esta cidade cativante, isenta de semáforos, onde carros param nas faixas em respeito ao pedestre e muita, mas muita moto rodando, além da beleza da Universidade e do povo que só tem de bom a se falar.
Hoje posso dizer que com certeza, depois de ter conhecido a Edmilza, secretária da Fesg, (Fundação do Ensino Superior de Goiatuba), com quem namoro há 4 anos, em 2013 irei em definitivo ser mais um cidadão goiatubense.