Há um rato em minha coca
Muitos gostam de cerveja, churrasco, chocolate... eu gosto de coca-cola. Sem coca, o almoço de domingo com a família não é o mesmo, sorvete fica incompleto, sanduíche não tem o mesmo sabor. Por isso estou triste. Uma trágica, fatídica notícia pegou-me de surpresa: encontraram um rato mergulhado numa garrafa de coca!
Foi, para mim, o pior castigo. Verdadeira ou não, a história mexeu comigo. Agora não consigo abrir uma dessas embalagens sem pensar no tal bichinho. Através do plástico, dá para ver mais ou menos, mas a latinha eu balanço, observo o peso, o aroma, faço um minucioso exame antes de começar a beber. A cada gole dou uma conferida, e o receio de encontrar o mamífero roedor vai até o final.
Perdeu a graça! Acabaram com o meu maior prazer. Já se passaram vários meses e a notícia, para mim, continua recente. Não consigo tirar da cabeça. Por mais que eu diga a mim mesmo que está tudo bem, não adianta, há um rato em minha coca. Por mais que pareça ser uma jogada para denegrir a imagem da bebida, há sempre um rato em minha coca.
Isso é pior que chifre. Não dá para esquecer. Os dias passam e nada muda. Quando vou “abrir a minha felicidade”, parece que estou vendo aquela imagem ali, suas orelhinhas amassadas, seu rabinho balançando pra lá e pra cá, seus olhinhos desfalecidos voltados para mim. Não tem jeito, o maldito rato não sai da minha coca.
Miguel Patrício é professor, escritor e ator
Contato: miguelpaodemel@gmail.com