Hora de passar a limpo
Por: Adeídes Rodrigues Pereira
Sem querer fazer nenhum trocadilho ou julgar quem quer que seja, “é preciso aproveitar a tempestade para buscar a bonança”. Ou seja, precisamos aproveitar os lamentáveis acontecimentos ocorridos nos últimos dias em Goiatuba para promovermos à verdadeira “virada de mesa”.
Essa virada de mesa não acontecerá apenas pela punição de “a” ou “b”, realização de um novo pleito eleitoral ou até mesmo como querem algun que o Tribunal Regional Eleitoral reforme a sentença dada pelo juiz eleitoral anulando os votos dos vencedores do pleito passado, mudando o coeficiente e dando posse ao segundo colocado. Como não sou profissional do Direito nem vou me atrever a entrar nesse mérito.
Mas como cidadão posso e devo participar da discussão. Você também. Quando cheguei para trabalhar em Goiatuba, cerca de duas décadas atrás, fiquei abismado como o processo eleitoral era tratado como um produto e tudo tinha seu valor comercial e já se ouvia dizer que fulano “gastou tanto” para se elege.
Relutava em acreditar que aquilo era real, até porque nosso parlamento municipal parecia “normal”, inclusive pela presença feminina, fato que nos pleitos seguintes foi se desmontando. Ledo engano meu.
Ao longo destas duas décadas vi de um tudo. Mesmo não aceitando tal situação, assim como os nativos, também comecei a achar que nada mudaria esse triste cenário. Acontecia uma eleição, outra e outra e tudo se repetia. Para piorar, a sensação que se sentia era de que os mentores deste esquema maléfico para a democracia e qualquer sociedade haviam montado um exército e que cada vez mais arregimentava novos soldados. E sempre que se preparava para começar mais um pleito eleitoral só se ouvia: “você quer ser candidato a vereador? Você tem R$ 100 mil para gastar?” Caso não tivesse, o pretenso candidato era estimulado a desistir do pleito e assim cada vez mais vimos as fileiras de pessoas de bem que queriam ajudar no desenvolvimento da cidade se esvaziar, bem como crescer o desinteresse das mulheres. Atualmente, os R$ 100 mil já são insuficientes para assegurar que algum candidato se eleja vereador em Goiatuba.
Também ao longo destas duas décadas em raros momentos de lucidez coletiva vi a sociedade esboçar reações e alguns movimentos tentaram se emergir, mas o exército já tinha soldados em todos os segmentos sociais e tratava logo de desestimular qualquer ação que desmontasse o esquema. Tudo isso aliado a uma atuação pífia do Ministério Público, das Polícias e até do Judiciário, cada vez mais a sociedade se agachava, baixando a cabeça e ninguém mais acreditava que seria possível se eleger em Goiatuba sem certas “ajudas”.
Mas os acontecimentos registrados desde a última eleição nos devolve a sensação de que ainda dá tempo de reagir. E graças à atuação do Ministério Público, das Polícias e do Judiciário que enfim saíram de seus confortáveis gabinetes, parece que novamente surge uma luz no fundo do túnel.
Todavia, de nada adiantará essa reação esboçada pela estrutura que sustenta a justiça, se o cidadão comum, a sociedade organizada com seus clubes de serviços, associações diversas (inclusive as de bairros), as maçonarias e as igrejas não se juntarem e somarem forças com a promotoria, com os policiais e juizado eleitoral, por que sem apoio, eles se tornarão novamente frágeis e podem nadar, atravessar o oceano e morrer na praia.
Digo isto, não querendo condenar “a” ou “b”, até porque acredito que somos todos vitimas das nossas próprias vaidades e desejos que às vezes nos traem e nos levam a trilhar por caminhos impróprios. Digo isto, porque ainda não ouvi o grito destes organismos sociais que estão assistindo há seis meses como ilustres espectadores o belíssimo trabalho desenvolvido pelo Ministério Público, as polícias e coroado pelo Judiciário. Cadê a CDL, ASSEG, Maçonarias, Igrejas e Associações? Estão esperando o que para saírem da letargia? Vão perder o bonde da História?