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Jogo de Truco

Jogo de Truco

Eu não jogo truco. Quando reunimos os amigos para passar o tempo, jogamos poker, canastra, cacheta ou outro qualquer, mas nunca o truco. Penso que os motivos do encontro sejam a alegria, a confraternização, a celebração da amizade que nos une. O truco parece ter tudo isso, mas é engano.

Esse jogo é cruel! Quem o conhece sabe que se caracteriza pelo barulho, pela intimidação e principalmente pelo desprezo ao adversário. O dicionário Aurélio atesta que trucar significa iludir com declarações mentirosas. A gozação, a falta de respeito e as palavras de baixo nível são frequentes, necessárias até para a vitória. O “bom jogador” é aquele que melhor ofende, menospreza e agride o oponente. Alcunhas de ladrão, sem-vergonha, porco e outras, impróprias para a citação aqui, são proferidas em alto tom infestando o ambiente. As risadas amarelas comemoram o triunfo alcançado, no entanto festejam principalmente o fracasso do adversário. Se há alegria, há apenas para o vencedor.

Eu não jogo truco. Se jogasse, lembraria que o oponente é, em primeiro lugar, um amigo e por isso merece minha consideração e cortesia. Ao invés de gritar “truco, seu cachorro”, eu diria mansamente “nobre colega, permita-me pronunciar o nome do jogo”. E no momento da descoberta de um blefe nunca berraria “toma seis, corno safado”; em tom amável e respeitoso pronunciaria “com sua aquiescência, desejo elevar o valor da aposta”.

E o mais importante: se a vitória viesse no final, eu cumprimentaria o adversário pelo esforço e habilidade apresentados e desejaria melhor sorte na próxima vez. O meu sorriso transmitiria quase que um pedido de desculpas pelo triunfo. A mão estendida e um terno abraço seriam minhas atitudes de conforto ao companheiro.
Se os jogos não são bem vistos aos olhos de Deus, o truco é o primeiro da lista. Isso é coisa do diabo!

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