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Nós somos diferentes

Nós somos diferentes

 

 

Durante toda essa primeira semana do mês de junho de dois mil e onze vimos nos noticiários sobre a prisão dos 439 militares do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. E fatos como o ocorrido com os nobres irmãos de farda nos levam a refletir mais uma vez a respeito da justiça em nosso país.

Sinto-me na obrigação de manifestar relevante insatisfação, pois já percorri uma pequena parte da minha jornada como militar. E na condição de Oficial da Polícia Militar do Estado de Goiás, percebo já há algum tempo no olhar da nossa tropa uma preocupante desmotivação profissional, a qual vem se agravando por diversos fatores envolvendo a nossa instituição, bem como outras co-irmãs que vivem conflitos semelhantes. Portanto, avancemos com o sincero manifesto.

Nós militares sabemos, conscientemente, que somos diferentes. Afinal, só a atitude de jurar proteger a sociedade assumindo o risco da própria vida, ou melhor, da própria morte, já nos separa da maioria dos seres humanos.

Portanto, nada mais justo e natural do que reconhecer a condição de heróis que todas essas árduas, porém não menos gratificantes profissões, voltadas para exercer a segurança pública e a defesa social, transformam os seus integrantes.

Observa-se que o Brasil – Nação sangra ao ver alguns de seus filhos, patriotas por excelência, serem presos e retirados dos seios de suas famílias como se fossem criminosos de alta periculosidade por estarem reivindicando um justo aumento salarial. Pois, como se pode comprovar um soldado bombeiro no Rio de Janeiro recebe pouco mais de um mil reais sem os descontos e que, após estes, sobram míseros “novecentos e poucos”, se o militar não tiver empréstimos, pensões, etc., para que ele consiga sustentar bravamente a si próprio e a sua família.

Não se faz pertinente entrar no mérito relacionado ao Código Penal Militar, o qual nós conhecemos e sabemos da sua rigidez, logo, temos consciência de que toda a ação tem o devido amparo legal. Mas não se pode deixar de questionar sobre se há necessidade de se tomar decisões que resultarão em sérias conseqüências para aqueles que viram, além das suas reivindicações não serem atendidas, as suas liberdades cerceadas. 

E aí faz-se o questionamento: Em que país nós estamos vivendo? Será naquele em que se aprisionam os seus heróis enquanto que os bandidos andam livres pelas ruas?

Sou militar de alma e coração e pertenço a uma corporação sesquicentenária que traz na sua história várias lutas, vitórias e que atravessa, assim como a instituição do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, outra crise que não ocorre por questões salariais, mas igualmente reflete essa inversão de valores que vem acontecendo em nosso país, cujos responsáveis exercem os mais diversos cargos e ostentam as mais distintas patentes.

Não espero mudar o rumo dos acontecimentos ao expor a minha opinião e nem pretendo ofender nenhuma autoridade militar, política ou eclesiástica em particular. Acredito somente que não se devem ver as injustiças acontecerem e todos ficarem calados por medo se sofrer qualquer forma de represália.

É claro que toda insatisfação deve ser manifestada com o devido respeito. Mas se não explanarmos a fim de que as autoridades competentes tomem as devidas providências justas, morais e legais, amanhã poderemos estar envolvidos, sejam como vítimas ou até mesmo executores de ordens e decisões autoritárias, as quais quase sempre estão submersas por jogos de interesses pessoais e raramente voltadas para o interesse público e social.       

 Sandro Nogueira de Rezende é 1º Tenente da PM de Goiás, lotado no 29º BPM, Bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas de Goiatuba/Go – FAFICH e Pós Graduado em Polícia Comunitária pela Universidade de Santa Catarina – UNISUL.

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