Poucos sabem, e sabem pouco sobre o coité (ou cuité, em algumas regiões). Posso dizer que é uma fruta – apesar de um pouco grande – e que se parece com a cabaça, sua prima distante que se tornou mais conhecida, viajou o mundo, venceu fronteiras nas costas dos trabalhadores rurais. O coité não teve a mesma sorte, ficou aqui mesmo no meu sertão; era mais pesado, e a água que guardava tinha gosto ruim.
O máximo que conseguiu, quando seco, foi dividir-se em duas partes - dois pobres utensílios de cozinha. Talvez daí tenha surgido estranhos comentários a seu respeito: dizem, ao redor das fogueiras, que é a fruta preferida do diabo. Por isso só pode ser apanhado verde; quando amadurece e cai ao chão é colhido imediatamente pelo Senhor das Trevas. Ninguém arrisca dizer que viu um coité maduro debaixo do pé.
Quem viu não sobreviveu pra contar.
Poucos sabem, e sabem pouco sobre o coité. Mas há uma história interessante sobre ele: um lavrador passou a mão na foice e saiu em direção ao cerrado, acompanhado por seus dois filhos. Os meninos, pequenos ainda, já imitavam o pai na dura lida do campo. Era o legado que tinham e seus olhos observavam a técnica do velho homem que equilibrava a ferramenta nas costas. Assim, o sol da manhã reluzia feliz entre três lâminas, duas num plano inferior, mas que seguiam na mesma direção, balançando-se lentamente numa invejável harmonia de movimentos. Um verdadeiro balé que, sem treino, era perfeito e apresentava-se à natureza que passava.
O colchete, a ladeira, o riacho, a pinguela e, enfim, estavam frente ao trabalho. Com os olhos vagando sobre as plantas, vencendo o verde em busca do azul que se derramava do infinito, o homem explicou aos filhos que iriam roçar o mato, amontoar e queimar os despojos, arar a terra, esperar as chuvas, espalhar as sementes, velar das pragas, colher o milho, vender as sacas, usar o dinheiro na compra de uma vaca, esperá-la parir e, então, os meninos iriam beber leite no coité. O mais velho ouviu atentamente e até abriu um leve sorriso; analisou apenas, e em pensamento, o longo tempo de espera. O outro, no entanto, que apresentava uma inexplicável aversão à fruta, recusou-se terminantemente a tomar leite no coité. Vai, não vou. Vai, não vou, e o homem passou a foice num pequeno galho que pendia em sua direção, indignado pela desobediência. Vai, não vou. Vai, não vou, e o galho subiu e desceu repetidas vezes numa tunda sem pé nem cabeça. O coité foi o culpado!
Se alguém procurar, vai achar uma boa moral para a história. Algo como não sofrer por antecipação, não se preocupar com o futuro, por aí... Mas não é esse o meu objetivo. Só quero mostrar a influência maléfica do coité. Ao diabo essa fruta!