Cidade grande. Intenso movimento dos automóveis. O barulho dos motores acelera o ritmo de vida dos habitantes e a pressa se espalha por todos os cantos do lugar. Pelas calçadas as pessoas se agitam, disputando espaços, querendo sempre chegar primeiro mesmo sabendo que cada um caminha em direção diferente. Início de mais um dia.
Torcendo-se daqueles que surgem em direção oposta, um rapaz, personagem principal desta história, também briga com o tempo para chegar a tempo em seu trabalho. Na porta de um pequeno edifício, uma moça se adianta e lhe entrega um papel impresso, convidando-o para entrar. Ele estende a mão direita e deixa escapar um trôpego agradecimento devido ao esbarrão de alguém um pouco mais apressado. Era o mesmo folheto do dia anterior, que divulgava aulas de informática com certa professora Mariana. Word, Windows, internet eram palavras estranhas e sem interesse para ele que ocupava parte de seu tempo como vendedor em uma banca de revistas e o restante dentro dos coletivos de casa para o local e vice-versa. O papel foi jogado numa lixeira, talvez a mesma do dia anterior.
No decorrer da semana, depois de receber o folheto mais duas vezes, resolveu parar e resolver a questão. Será que a moça era assim mesmo insistente, ou não se lembrava das inúmeras vezes que o incomodara com o convite da tal professora Mariana? Não tinha importância, ia subir as escadas e falar com essa senhora que lhe mandava recados todos os dias. Ia pedir para que se esquecesse dele, caso contrário teria que mudar o trajeto. A porta se abriu e o sorriso da professora embaralhou os seus pensamentos qual pedras de bingo agitadas para o sorteio. A voz entrecortada do rapaz disse alguma coisa inaudível, mas felizmente o dedo apontou para o papel em suas mãos. A mulher se aproximou e as paredes da sala se mexeram também, abafando-o, sufocando-o com aquele perfume que já o havia embriagado. Word, apontava o dedo, e ele já ficou para a primeira aula. Não se lembrou do trabalho a que faltava. Word, era só o que interessava.
Nos dias seguintes, a pressa era maior. As pessoas abriam caminho para seus largos passos e seus olhos brilhantes. Arrastava consigo uma rara impressão de felicidade. Tudo por aquele andar elegante, as curvas do corpo se escondendo sob a roupa, a melodia da voz que parecia falar só para ele numa sala repleta de alunos... E quando certos cabelos longos tocaram seu rosto numa necessária aproximação pedagógica, ele teve a certeza de que Word era o mais importante para sua vida.
Aprendeu de tudo, foi mais longe que todos. CorelDraw, PowerPoint, Photoshop eram todas palavras irmãs fáceis de entender. Aprendeu acessar, recortar, colar, navegar. Só não aprendeu deletar um vírus que corroia seu coração, um vírus chamado amor que se espalhava por todos seus softwares, fazendo-o executar uma função impossível.
Hoje o tempo passou. Impulsionado pela falta de esperanças, nosso personagem partiu rumo ao interior. Está aqui perto da gente. Trabalha agora na área tecnológica e é um renomado profissional. Pode-se dizer, sem medo de errar, que seu sucesso na vida aconteceu devido ao amor pela informática.