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BORBOLETAS DE MINHA INFÂNCIA

Passa o tempo e o tempo da infância não passa para mim. Na verdade, quanto mais me aproximo da linha de chegada, mais me agarro aos preciosos momentos de quando dei os meus primeiros passos. Inúmeras lembranças se agitam em minha mente, esbarrando-se umas às outras, revezando-se na tarefa de fazer reviver pedaços de um tempo que se recusa a ficar no passado. Assim, eu me vejo sempre agarrado a constantes e envolventes recordações.

De uma forma ou de outra, estou sempre recebendo novos pedaços de velhos tempos de vida. Maravilhosos momentos, pedras de diamante que vou guardando com cuidado em meu bornal de emoções. Um desses diamantes chegou-me esta manhã. Revi nitidamente a fazenda onde nasci. O quintal, o “trieiro” que margeava a cerca de arame, o capim da beira da estrada, as pequenas flores de um rosa-claro bem suave, apagado, mas inesquecível. Ali pousavam incontáveis borboletas em busca do doce daquele perfume, o perfume de minha infância. Várias delas se destacavam pelo tamanho e pela beleza, talvez por isso fossem mais arredias, agitadas, mudavam de lugar sempre que eu me aproximava, mantendo-se à distância exibindo as cores vivas de suas asas. Havia outras menores, de um tom escuro meio acinzentado, que não fugiam com a minha presença. Eram lindas também, e a sua amabilidade as tornava mais importantes para mim. Algumas até deixavam ser tocadas com carinho nas pontas das asas. E elas dançavam diante do meu rosto, mudando vez em quando de uma flor para outra.

Devido ao formato, eu as chamava de certo apelido que o longo tempo não me possibilita mais lembrar. Vai ficar guardado esse segredo. As borboletas de minha infância vão ficar por aí, batendo asas em meus sonhos, assentando-se nas flores róseas de minhas recordações. Meu Deus, como o tempo passa depressa!

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