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CHEIRO DE INFÂNCIA

O ser humano se comunica com a vida por meio de vários sentidos. Todos importantes. Um deles é o olfato. Pelo cheiro se identifica, se afasta, se aproxima, se apaixona. Há sempre alguém sentindo cheiro de alguma coisa no ar. Difícil é saber qual é o melhor cheiro do mundo...

Para a torcida do Flamengo, talvez seja o cheiro da conquista de mais um campeonato. Nos últimos dias, ele está ficando mais forte e a gente vê pelas ruas um crescente desfile de camisas rubro-negras. Bom também é o cheiro de carro novo. Quando a porta é aberta, a gente se entrega àquele ambiente agradável e não quer mais sair. É a fragrância da riqueza e ela até influencia na aceitação do preço e consequente decisão da compra. Para a mamãe, principalmente, o melhor cheiro é o do bebê. Nada se compara ao frescor daquela pele macia exalando cuidado, carinho e amor. Se alguém ganha o afago de uma criança, leva essa felicidade impregnada por muito tempo em sua face, em suas mãos. Ah, o cheiro da pele sempre foi também o fator decisivo na entrega dos amantes. A beleza e a paixão podem contribuir para o primeiro encontro.

A partir daí, o odor é que determina uma segunda vez.

Há, no entanto, um aroma que supera todos esses. É o cheiro de infância. Sabem disso todos aqueles que contam com uma quantidade considerável de primaveras e que reconhecem a primeira idade como o momento mais precioso da vida. Quando o céu escurece e a chuva fina cai, o bálsamo da terra molhada se espalha, revivendo o tempo em que corríamos livres pela vida, fazendo caminhos, fazendo tudo o que a mente pudesse imaginar. Os amigos, os brinquedos, os sonhos voltam com tanta perfeição e nitidez em nossa mente que parecem reais. Aquele mesmo perfume das pequenas flores róseas do capim que margeia a estrada invade o mundo. Esse é o momento, é o cheiro de infância que não morre, que nos acompanha, que nos persegue pela vida, lembrando nossas origens às vezes renegadas, as pessoas por um tempo esquecidas, os planos feitos e quase sempre não realizados.

Mesmo difícil, pobre e sofrida, a infância sempre foi a etapa santa da vida e que ocupa grande parte de nosso coração. O cheiro de infância nunca morre; nos acompanha, nos acalenta, é saudade gostosa em nossos momentos de solidão. É o melhor cheiro do mundo.

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