Chifre: Uma análise epistemológica
Miguel Patrício
Hoje eu quero falar sobre “chifre”. Isso mesmo: aquele fato de um bem, que tanto disse que te ama, estar amassando a cama com um outro alguém. Quero falar sobre chifre e da dor que ele provoca. Aliás, não é esse o sentimento adequado ao caso. É mais que dor, é tristeza misturada a uma revolta, com uma pitada de desespero e uma necessidade urgente de vingança. Um bom “galho” é assim: dá vontade de gritar, mas nem baixinho o chifrudo desabafa sua angústia – quanto menos gente souber, melhor. E não há remédio. Mesmo que digam ser normal, que acontece com todo mundo, não há melhora. Nem o tempo consegue apagar.
A pessoa acometida por esse flagelo não sai às ruas – tem a impressão de que todos estão olhando para ela. Nos lábios, exibe sempre um sorriso sem graça. O pior de tudo são as brincadeiras. Os amigos adoram jogar sal na ferida, que nunca cicatriza. Se soubessem que chifre é coisa séria... A maioria dos casos de depressão, celibato e suicídio originam-se de uma chifrada bem doída. Os profissionais da saúde sabem disso, mas escondem o diagnóstico para não alarmarem a população.
Então, se chifre não tem remédio, é necessário, ao menos, saber lidar com ele, saber amenizar o impacto da chifrada, diminuir o alcance do estrago feito, desenvolver uma técnica de aceitação e controle dos nervos. Para atingir esse objetivo, a TV deveria apresentar programas educativos sobre o assunto, os pais teriam que prevenir os filhos desse inevitável perigo, e as escolas incluírem o estudo em sua grade curricular.
Como lidar com o chifre? Eis a questão. É uma necessidade premente nos dias de hoje. Se alguém souber, ligue para mim. Não é por nada, mas é bom prevenir.
Miguel Patrício é professor, escritor e ator, miguelpaodemel@gmail.com