Quando criança, eu queria ser detetive particular. É um profissional meio cercado de mistério que emite sobre nós certo fascínio. Há sempre um toque de aventura envolvendo sua vida. É pouco conhecido, não aparece muito, faz parte de sua profissão esconder-se para melhor achar. Ele observa, investiga, segue, persegue e desvenda segredos, enxerga além do limite que podem ver as pessoas normais. Mas, por que estou dizendo isso?
Em nossa cidade, o detetive particular é normalmente requisitado para solucionar os frequentes e crescentes casos de adultério. É uma prática comum, sempre utilizada pelo suspeito corno. Quando cai a chuva da traição e brota uma semente de desconfiança entre o casal, um telefone logo toca e, em seguida, os passos de alguém começam a ser vigiados dia e noite, mais de noite que de dia. Lupas, binóculos, telescópios são montados. Barricadas invisíveis são erguidas nas imediações de motéis, escritórios, automóveis de vidros escuros, casas de amigos e capinzais com mais de um metro de altura. Telefones são grampeados e os contatos nas redes sociais são minuciosamente analisados. Em pouco tempo, explode a bomba. Mais um chifre se alonga e se revela aos olhares curiosos da comunidade.
Recentes pesquisas realizadas no Brasil apontam os homens como maiores traidores. 69% deles não se contentam com uma única fruta. Aliás, 69 é um número sugestivo. Os outros 31% pertencem às mulheres. Não foi computada aqui uma crescente parcela da população aberta a novas experiências. Em nossa região, esses números se confirmam e frequentemente um novo caso de infidelidade conjugal é descoberto. Não se passam muitos dias sem aparecer uma chifrada nova, na baixa ou na alta sociedade. Grande parte desvendada por um detetive particular. É, esse profissional não está em extinção; o ramo das traições garantiu a ele uma boa fonte de renda. Sua atuação é tão frequente que já aconteceu de alguém se engraçar com o próprio detetive particular que estava em sua cola. Nesse caso foi preciso contratar outro detetive para desenrolar a trama.
É isso aí. E agora que você sabe de tudo isso, é melhor tomar mais cuidado. Quando pressentir que está sendo seguido, que alguém lhe faz muitas perguntas, que há uma leve respiração ao fundo nas ligações telefônicas, que aquele clima de filme de suspense envolve sua vida, pode desconfiar. Sua cara-metade contratou um detetive para seguir os seus passos e, por isso, é bom saber onde põe os pés. Na verdade, é bom mesmo saber onde põe as mãos. Melhor é dar um tempo, não dar uma a todo tempo ou deixar de dar por certo tempo. Aí os dias passam, o caso esfria e o detetive dá a investigação por encerrada. Depois é só recomeçar. Aliás, chifre nunca acaba; as pontas podem ser aparadas, mas sempre nascem outra vez.