O povo brasileiro é nitidamente divertido, verdadeiramente alegre. Apesar das dificuldades e dos frequentes contratempos, leva a vida de maneira agradável. Há sempre uma anedota nova para contar, um vídeo cômico para compartilhar, um sorriso para repartir. Os famosos “pegas” estão cada vez mais estruturados; é preciso cuidado na condução de uma conversa, senão a gente “cai” na armadilha preparada, no jogo de palavras minuciosamente estudado para esse fim. Isso é bom, é bom viver assim.
Os ditados populares enriquecem esse estilo de vida. De tempos em tempos aparece um costume, uma expressão idiomática usada para ilustrar o já amistoso bate-papo. Não faz muitos anos, quase todas as pessoas se apressavam em dizer “saltei de banda” quando algo lhes causava algum embaraço. Se um indivíduo apresentava características duvidosas em sua preferência sexual, era comum se expressar “esse camufla”! Quando um sujeito lamentava certo fato acontecido, estava “pensando na morte da bezerra”. Se o infeliz cometia um erro qualquer, era “batata” que alguém dizia “ele pulou o corguinho”. Acaso o erro fosse maior, o complemento era inevitável: “Ele pulou o corguinho de ré”! Recentemente se algo desse certo, se pensamentos fossem similares ou se um acordo fosse realizado, logo se ouvia “fechou’.
E hoje, quando acontece algo de bom ou se quer expressar certo contentamento, “só o ouro” é a expressão comumente usada, apresentando certa característica regional, pois já ouvi “só o toddy” em outras cercanias. Se a gente recorrer à memória, inúmeros outros ditados aparecem: “Dar com os burros n’água”, “acabar em pizza”, “tirar o cavalo da chuva” e por aí afora. Um deles, usado na década de 60 e por isso desconhecido pelas pessoas mais jovens, é bem interessante: quando alguém se envolvia em um escândalo, elevava a voz ou simplesmente deixava escapar uma risada mais assanhada, era comum se ouvir “cagou lobo do cu queimado”! Na baixa ou na alta sociedade, o público masculino ou feminino vivia se referindo ao órgão excretor do coitado do lobo.
Há, no entanto, um ditado que me incomoda. Ele nunca “cai do galho”, é sempre usado por aí quando algo traz prejuízo ou qualquer efeito indesejável a alguém. Todos conhecem e pronunciam em alto brado “é ruim pro Vasco”! Isso me desagrada, pois sou vascaíno e não entendo por que tem que ser o Vasco. Poderia ser ruim para o Botafogo, para o Flamengo, para o Corinthians, mas não, é sempre ruim para o Vasco! Reconheço que, vira e mexe, o meu time está na segunda divisão do campeonato, sei que está sempre devendo salários aos jogadores, vive perdendo, mas nem tudo é ruim pro Vasco.
Não, não aceito. A gente sabe que as boas palavras trazem prosperidade; as ruins, o fracasso. Nesse ritmo, todo o lixo do mundo será jogado sobre o meu clube que já teve várias glórias no passado. Seria bom se o ditado fosse esquecido ou se mudassem o nome do time. Assim é ruim pro Vasco!