Eu não uso buzina. É um componente do veículo inútil para mim. Penso que, ao acionar esse mecanismo, chamo atenção demasiadamente e incomodo as pessoas que estão passando. Quando alguém põe em funcionamento esse som estridente de seu automóvel, revela muito de sua personalidade às pessoas em volta. É o mesmo que falar bem alto que é um sujeito apressado, mal-educado e pronto para uma discussão mais acirrada, se necessário.
O toque da buzina já foi motivo de inúmeras confusões no trânsito. Muitos casos ficaram apenas na troca de palavrões; em outros, os envolvidos partiram para o confronto físico. Realmente esse aparelho elétrico sonoro irrita, principalmente quando é acionado no veículo que vem atrás, apressando, reprovando a maneira que a gente dirige. Como dizem os mais exaltados, o sangue ferve e sobe à cabeça. Daí em diante só Deus na causa para evitar o pior.
Numa emergência é aceitável esse costume feio. É unicamente para esse fim que o tal som irritante foi inventado. No entanto, se o condutor do automóvel empreender uma velocidade segura, verá que não há necessidade de alertar um animal doméstico que atravessa as ruas, uma criança ou mesmo um adulto distraído que passa. Esse sinal de advertência pode ser poupado; basta ter calma que tudo se resolve, sem barulho, sem estresse, com educação, com civilidade.
Certa vez cheguei a uma cidadezinha e já me encantei com o lugar. Havia uma placa bem na entrada dizendo que ali ninguém usava buzina. A mensagem, mesmo simples, dizia muito. Em suas entrelinhas, falava que ali morava um povo simpático, que respeitava o silêncio e a tranquilidade dos habitantes e dos convidados. Ali era, sem dúvida, um bom local para se viver. Dirigentes que dão atenção a detalhes como esse, certamente cuidam com responsabilidade dos assuntos mais importantes da comunidade.
Mesmo quando passa um amigo e não nota minha presença, me contenho para não acionar esse mecanismo da discórdia. Outro alguém, motorizado ou não, pode pensar que a mensagem inconveniente é dirigida a ele e irá embora com uma imagem falsa a meu respeito. Eu não uso buzina. E você?