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Espaço Cultural -

FANTASMAS

De repente, ouvi barulho de passos na cozinha. Sabia que estava sozinho. As portas, todas trancadas. O que fazer? Para acelerar ainda mais as batidas do coração, o som de talheres tilintou por toda a casa, e uma corrente arrastou-se ao chão seguindo o suposto visitante. Ajuntei coragem, aproximei-me da porta e afastei a cortina, no momento em que a luz alcançou os quatro cantos do local. Uma rajada de vento tocou-me o rosto; e a janela, cerrada. Subitamente, caíram e deslizaram no telhado inúmeras e pequenas pedras, fazendo-me erguer os olhos e engolir a saliva que atrapalhava a respiração, agora mais ofegante. O que fazer? Fui até à porta, abri e olhei o chão. Nada havia, nem ninguém. Esta é a hora do medo maior: a ausência de alguma coisa palpável, natural, conhecida. Uma horrível gargalhada ecoou na noite escura e eu corri pelo matagal que se estendia à minha frente, ouvindo o uivo de lobos, o tropel de cavalos e o farfalhar de morcegos, até tropeçar em uma cruz e cair nos braços de um cemitério esquecido no centro da clareira. De joelhos ainda, levei as mãos à cabeça, num gesto de desespero, ao ver sobre as tumbas os seus moradores vestidos de branco estendendo-me as mãos, cada qual exibindo um macabro sorriso. O que fazer?

Aí, então, chegou o café. O seu agradável cheiro povoou a sala, dissipando todos os medos. O silêncio foi pisoteado pelas crianças em luta com a vasilha de biscoitos. E a vovó tossiu, deixando escapar, no brilho apagado dos olhos, a satisfação que sentia ao espalhar, entre os netos, o terror de suas histórias sobre fantasmas - e olha só - que ela dizia, afirmava, jurava serem verdadeiras. Algumas havia acontecido com ela mesma. Ninguém ousava duvidar de suas palavras...

Muitos anos se passaram. Nem sei quantos. E agora, homem feito, relembro nossos encontros noturnos no tapete da sala e confesso: até hoje não encontrei motivos para duvidar da vovó; não consegui provas suficientes para afirmar que fantasmas não existem. Nunca vi algum, não tive esse privilégio, mas esbarro neles por aí, tropeço em suas correntes, ouço suas risadas. Assim vou, seguindo meu caminho. Saudade sempre, medo às vezes, mas com a mesma certeza daquela velhinha que nos dedicava grande parte do seu já precioso tempo. É o mínimo que posso oferecer a ela.

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