Festa no interior: Maria repara o vestido mal passado de Joaquina, Zefa sorri do cabelo arrepiado de Mané, Bastiana fala no ouvido de Leôncio, apontando para a barriga saliente da filha dos Oliveira.
É sempre assim. As pessoas chegam e se amontoam. Trocam palavras e gestos com as mais próximas, mas o olhar está solto por aí à procura dos detalhes, dos defeitos e dos delitos das outras que passam. Como se esperassem o início de algo que nunca acontece, ali permanecem no melhor da festa.
O bom é chegar primeiro. Quem vem depois se sente numa passarela. Todos se voltam em sua direção. É inspecionado, radiografado, auscultado. Diante dos olhares, a roupa até se torna transparente. Não há quem passe despercebido; há, sim, o inevitável tropeço na caminhada.
Tudo bem. E para que servem os encontros, os festejos e as celebrações? É a oportunidade ímpar, especial para que todos se reparem mutuamente, para que falem de todos para todos, para que se comparem e se comprazem com o trejeito, com o rebolado, com o sorriso de quem olha e também repara.
Há uma regra apenas: quem não quer ser observado que fique em casa. Então, não há saída. Todos juntam suas imperfeições e levam para se juntar às outras. Aparecem radiantes, exibindo seus dentes amarelados, seus olhos esbugalhados, seu nariz aquilino e suas orelhas de abano. Difícil não ver; impossível esconder.
É sempre assim: o decote longo, a saia curta; a falta dos cabelos, o excesso dos seios; mais adiante, a amante, o farsante. Por isso, ingrediente indispensável, que essas festas são, a cada ano, imperdíveis!