Maria Eterna era jovem, era bonita. Conheceu muitos lugares, muitos desejos, muitos amores. Realizava quase todos os seus sonhos e assim se sentia muito feliz. Tinha o nome da mãe de Jesus e se orgulhava dele. O sobrenome era também importante: dizia que seria lembrada para sempre por parentes e amigos e, mais ainda, que viveria eternamente em outro lugar, muito mais bonito, após sua morte. A igreja que frequentava lhe ensinara tudo isso.
Mas o tempo foi passando e ela se modificando. As verdades aparecendo, as evidências incomodando... A mulher começou a pensar, a usar a razão. Foram longos anos de luta contra si mesma, suas crenças, tradições, já no limiar da velhice. E quando os remédios apenas conseguiram mais alguns dias de vida, ela questionou com mais firmeza aquele incerto destino. A incerteza foi se intensificando, se materializando, se revelando numa quase constatação de que nada mais existe. Aquela fé construída com tanto cuidado, edificada dia após dia, foi se desmoronando, caindo ao seu redor. Maria Eterna ouviu o barulho dos blocos tocarem o chão e se espalharem em mil pedaços de nada. A esperança foi se diluindo, se deteriorando e ela se sentiu sozinha, mais sozinha como nunca sentira. Sem palavras, sem amigos, sem sacerdotes, sem mentiras que pudessem ajudar. Como todas ao seu redor, sua vida foi real, mas a esperança fora uma grande farsa, um invento criativo, quem sabe necessário, para driblar o medo da vida e da morte.
Maria Eterna nada tinha de eterno. Faleceu no dia seguinte, crucificada, morta e sepultada e fim. Nada mais...