Sempre tive medo de chuva braba. Todo ano, durante três ou quatro meses, eu passo momentos difíceis. Não consigo esconder minha preocupação quando o céu escurece, tinte o infinito daquele azul sombrio, faz cara feia e começa a caminhar em minha direção. Feito uma fera acuada, o tempo ruge a sua contrariedade, como se quisesse descontar no homem tudo o que ele tem feito contra a natureza. É agora, penso. Meu coração começa a bater mais forte e vai acelerando à medida que a chuva se aproxima. Eu perco minha calma, minhas mãos esfriam e começo a rezar. É um medo diferente, uma sensação de impotência. Eu me sinto tão pequeno, tão frágil, não há como me esconder do perigo.
Tem um lado do mundo que a chuva vem mais forte. Não sei por quê. Quando as nuvens se juntam daquela banda, a gente pode esperar que coisa boa não vem. O vento chega à frente arrastando a poeira, trazendo os relâmpagos e o pavor. Se for à noite, a coisa se agrava. Um trovão distante já me acorda. Levanto e me preparo para o pior. Faço uma oração, ligo a luz do quarto, desligo todos os aparelhos das tomadas e fico andando pela casa, torcendo para a coisa passar depressa. O momento dos estalos é o mais difícil para mim. Sempre penso que um deles vai me acertar a cabeça. Eu sei até a hora que o relâmpago vai ser mais forte: é quando a chuva para um pouquinho, o vento deixa de assobiar, respeitando a chegada do trovão. Esse é o momento! E quando aquele risco de fogo ilumina a casa, eu me apego em São Jerônimo e Santa Bárbara que têm o poder de dominar as forças da natureza.
As pessoas fazem chacota desse meu temor, mas não sei como evitá-lo. É um trauma que carrego. Quando criança, eu morava numa fazenda. Lá as tempestades eram frequentes. O vento quebrava galhos das árvores próximas da sede, arrancava telhas da varanda e todos nós morríamos de medo. Minha mãe tinha várias simpatias para aquelas ocasiões: numa jogava três punhados de sal nas brasas do fogão a lenha; em outra, atirava um prato branco pela janela, em direção àquele furor, acreditando que assim podia mudar a direção do vento. O interessante é que quase sempre dava certo. Logo a chuva passava, os trovões iam se distanciando e ficava um xereré no telhado. Era um alívio!
Sempre tive medo de chuva braba. Mais do que expressei. É pior que medo de ladrão, de cobra, de vaca parida. Aqueles que se sentem como eu sabem que não há exageros em minhas palavras. Quando chover forte por aí, saibam que estou morrendo de medo por aqui. Valei-me meu São Jerônimo e minha Santa Bárbara!