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Minha agenda telefônica

Estou me surpreendendo, a cada dia, com minha agenda telefônica. Confesso que não a conhecia direito e nem podia imaginar que guardava tantos segredos. Eu explico. Devido à necessidade de acréscimo do algarismo nove antes de cada número, tive que rever todos os nomes registrados nela. Na verdade, ainda não terminei essa tarefa, pois estou olhando um por um, já que não aprendi a maneira de fazer tudo de uma vez. São inúmeras as surpresas.

Logo de cara, na letra A, encontrei nomes desnecessários, de gente que já não tenho mais contato. Apaguei todos, pois essas pessoas não “ligam” mais para mim e dificilmente iriam receber um telefonema meu. Lá pela letra D, deparei-me com um membro da família que há tempo eu não vejo. Um parentesco mais distante, mas nem por isso de menos valor. Acrescentei o nove e liguei marcando uma visita para o próximo domingo. Na letra G, avistei o nome de uma nutricionista. Lembrei dos meus descuidos alimentares desde que deixei de seguir os seus conselhos. Percebi que era hora de uma nova consulta.

Surpresa maior aconteceu quando alcancei a letra L. Lá estava digitado, com todas as letras, o nome de um grande amigo que havia falecido. A saudade aproveitou para me ferir mais uma vez, lembrando-me dos bons momentos que vivemos juntos por este incerto caminho da vida. Naquele instante fiquei tentado em ligar, mesmo sabendo da impossibilidade de ouvir sua voz. Não o fiz. Passei para a letra M onde encontrei o número de um desafeto meu. Pensei em apagar, mas me contive. Analisei os motivos de nosso desentendimento e compreendi que eram banais, fáceis de serem contornados e até esquecidos. Adicionei o nove e convidei a pessoa para uma conversa. Fiz bem, não fiz?

Mais adiante, na letra P, estava escrito... o nome dela. Isso mesmo, ela que tanto me ligou para falar de seus sentimentos, de sua vida, seus sonhos e alegrias. Ela que tantas vezes atendeu meus chamados para ouvir minhas preocupações, contribuir com uma palavra amiga, enfim, fazer mais leve minha solidão. Nem me lembrei por que nos afastamos e senti um desejo enorme de refazer o contato. Acresci o nove e liguei para desejar um bom dia, convicto de que seria o bastante para despertar o adormecido recomeço.

Meu trabalho chegou até aos primeiros números da letra R. Ali tropecei na alcunha daquela pessoa chata que vive me ligando mesmo sem eu atender. Esse contato é necessário preservar, pensei, e com letras maiúsculas. Estou, assim, na parte final de minha agenda e é certo de que ela vai me aprontar outras das suas. Vou seguindo, nome por nome, com cuidado e com certo receio por não saber o que ainda me espera.

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