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Espaço Cultural -

MOMENTO

Era dia de festa e as homenagens se sucediam. A alva decoração trazia em si o tom da felicidade, a mesma que se espalhava de rosto em rosto efervescendo sorrisos, motivando abraços, parabenizando conquistas. Textos escolhidos, esperados, degustados na voz emocionada do mestre de cerimônias. Aplausos, presentes e flores...

Assim, em fartas lembranças, duas rosas vieram parar no seio de uma família que se reunia ao redor de uma das mesas. E já que o melhor, o mais saboroso, o mais bonito, o quase tudo vai mesmo para as mãos dos filhos, em um segundo duas crianças, que já sabiam discernir o belo, disputavam o inesperado brinquedo. O problema era que uma das rosas, tímida ainda, se encolhera e teimava esconder as pétalas em seu estado de botão; bem diferente da outra que se abrira em leque, feito um pavão na presença de plateia. Maior em tamanho e beleza, a segunda flor chamava muito mais atenção. A preferência se estabeleceu, tanto que foi necessária a voz do pai pedir entendimento.

O beicinho se alongou naquela criança que virava as costas levando consigo o botão de rosas. A perda doía mais que a ferida, ainda que leve, de um espinho. A mãe logo se aproximou e prometeu flor igual à que valsava nas mãos da outra criança. A promessa não precisou muito para ser cumprida. Em casa, as flores foram depositadas em uma jarra com água. O sono e o beijo materno de boa-noite amenizaram a zanga, porém um sonho levou a criança à beira de um vasto canteiro de rosas enormes, coloridas, inimagináveis, mas que não podiam ser tocadas. Se uma era alcançada, e a mão se estendia em sua direção, dissolvia-se no ar como por encanto. Era a sensação de perda que ainda não havia adormecido.

Na manhã seguinte, a surpresa. A rosa maior debruçara-se no beiral da jarra, em seus últimos e murchos suspiros. A outra, distante do povo, despiu-se da timidez e se abriu para o mundo, bela, macia, cheirosa... A criança, enfim, sorriu. Assim é a vida. Há o momento. Em tudo e para tudo. Contenha o choro que ele se verterá em sorrisos. Contenha o medo que ele se fará coragem para a luta. Contenha o ódio que ele se derramará em chuvas de amor ao próximo. Há o momento. Nunca se deve pensar que tudo acabou, nunca se deve dizer adeus definitivamente, nunca é tarde para começar outra vez. Há o momento, é só preciso guardar a rosa e aguardar...

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