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NOMES AOS BOIS

Não é fácil a vida no campo. O trabalho rude, o sol escaldante, a solidão dos pastos são obstáculos vencidos dia a dia pelos peões na dura lida do gado. Há sempre um perigo no ar: uma cobra que espreita, um cavalo que se assusta, uma rês que defende a cria. Há sempre um barro dificultando a ordenha, um bezerro doente, uma novilha no atoleiro, uma vaca enroscada na cerca, um boi para campear. Há muitas preocupações. Uma delas, às vezes menosprezada, mas de muita importância, é o momento de dar nomes aos bois.

É isso mesmo. A escolha das alcunhas dos animais sempre causou dores de cabeça aos criadores de gado. Não é uma tarefa fácil como se imagina. Os nomes, habitualmente, combinam com as características do animal: Malhada, Chifruda, Fogosa, Rabicó, Castanha. Muitos trazem a preferência do dono: Corinthiana, Paula Fernandes, Coca-cola, Pamonha. Outros, ainda, sem motivos aparentes: Barão, Pipoca, Pintura, Mamona, Coração, Lua Cheia. Há nomes que não vingam; não são compartilhados por todos os peões ou não são aceitos pelos próprios animais e são, assim, logo mudados. O interessante é que a maioria dos bezerros não recebe nome quando nasce, mas na época da cria. Quando pequenos, eles se acostumam com os nomes das mães.

E há casos interessantes nessas nomenclaturas. Um fazendeiro amigo meu, por ser professor de matemática, colocou nome de Pitágoras em um de seus bois. O irmão dele batizou uma vaca encrenqueira de Dona Cleide em homenagem a certa senhora de sua rua. Soraia, vizinha feia de outro criador, emprestou seu nome a um ruminante com as mesmas características. Um peão denominou de Rosália uma rês cuja teima o fazia se lembrar de Rosa, sua irmã. A filha de uma vaca chamada Mulata não pôde receber nome de Periquita porque não passou pela censura do capataz da fazenda. E há casos sérios como aquele em que o fazendeiro foi abandonado pela esposa, pois esta descobriu que a rês mais bonita do rebanho se chamava Lorena, o mesmo nome de um antigo “affer” do proprietário.

Nunca foi fácil dar nomes aos bois, nas fazendas ou nas cidades. É preciso coragem e cuidado para não cometer erros. Segura, peão!

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