A casa era simples. Um barracão perto da esquina, ao lado de um lote vago. O telhado desigual, portas e janelas de madeira, as paredes de uma cor desgastada pelo tempo. Simples, mas limpo. Minha mãe dizia que não importava se as roupas, os calçados, as casas, os sonhos fossem humildes, mas deviam ser limpos...
Mas não é da casa que eu quero falar. Foi o seu morador que me chamou a atenção. Ele levantava cedinho, com o sol, para a primeira tarefa do dia: varrer a calçada, ou melhor, o chão onde deveria haver uma calçada. Não era fácil para ele. Tinha dificuldades no manejo da vassoura. Deus, com sua mania de desigualdade, não lhe deu braços firmes, a mão esquerda era torta, mancava ao mudar o passo e era corcunda.
Assim, parecia dançar executando o trabalho. Com um dos braços, apertava contra o peito o cabo da vassoura, e o outro arrastava a poeira e a folhagem da mangueira ao lado para cima dos seus pés. Ao andar para trás, levava consigo os resíduos até ao destino. Era como se ele próprio o varresse para o lixo. Não devia haver mais alguém na casa, e se houvesse suas condições eram piores, pois não aparecia para ajudar.
No caminho do meu trabalho, a cena se repetia todos os dias e, para mim, durava apenas alguns segundos. De dentro do carro eu via aquela irregular, estranha figura se movendo na calçada, se movendo pela vida. Era assim. Na hora marcada pelo destino, eu passava, e durante o dia aquela imagem voltava algumas vezes à minha mente. Talvez para que eu não me esquecesse de agradecer por tudo que sou e que tenho. Não sei. Sei que agradecia.
Agora não o vejo mais. Faz uma semana mais ou menos. O lugar está sujo. Portas e janelas fechadas. Será que se mudou? Ou está doente? Será que um dia vai voltar? Quando passo, diminuo a velocidade do automóvel e, da esquina, já me atento na esperança de ver a vassoura serpenteando frente a casa, nos braços do dançarino, seu par. Arrependo-me de nunca ter parado para cumprimentá-lo.