As pessoas diziam que ele tinha a cabeça fraca. Apareceu, um dia, do lado que o vento sopra mais forte e, como se fora trazido pela ventania, encostou aqui, junto às folhas que rolavam aos seus pés. Ser humano admirável, apelidado Garimpeiro, conquistou a todos com sua simplicidade e boa vontade. Estava sempre pronto a ajudar nas tarefas do povoado. Parece que fora feito para ajudar. Mãos fortes carregavam tijolos, carpiam quintais, varriam terreiros; mas ninavam as crianças e davam de comer às criações. Todos lhe confiavam as tarefas, as casas quando saíam. Confiavam-lhe os problemas, as preocupações, pois ele sabia também ouvir. Em seu rosto manso, de sorriso constante brilhava uma estranha e indefinida esperança.
Mas a cabeça era fraca. Vivia zanzando por aí, ficava um pouco em cada lugar. E ninguém lhe recusava um prato de comida; era o mínimo que podíamos lhe oferecer e o máximo que ele aceitava. Dormia nos celeiros, nos alpendres, nas varandas, sempre atento como autêntico cão de guarda. Sentíamos mais seguros com a sua presença. Nossa casa, que margeava o riacho, era a que ele mais gostava. Aquele som das águas correndo entre as rochas o prendia. Quando desaparecia de repente, todos sabiam onde encontrá-lo. Estava nas margens ou no leito do pequeno riacho, recolhendo pedrinhas brilhantes lavadas com esmero pelas águas cristalinas. Agachado, molhando as barras da velha calça, não se cansava de apanhar, escolher, esfregar nas mãos e colocar em sacas de linho. Ele afirmava serem diamantes. Inúmeras sacas de diamantes que, com dificuldade, eram empilhadas junto às paredes da velha casa do mangueiro. Essa era, na verdade, sua principal ocupação. Dizia que todos nós iríamos ficar muito ricos. Ele iria recolher os diamantes necessários para realizar os sonhos de cada um, inclusive o seu, que ninguém sabia ao certo qual era.
Quando faltavam sacas ou quando a pilha de pedras começava a crescer demasiadamente, sem que ele visse, algum de nós devolvia parte do garimpo ao leito do córrego. Parece que ele nem notava e recomeçava o seu trabalho. De vez em quando desaparecia; ficava alguns dias distante de nós, mas sempre voltava. Ninguém ousava perguntar aonde ia e o recebíamos de braços abertos. Até o riacho murmurava sua alegria ao vê-lo novamente por perto e lhe oferecia, cordialmente, seus diamantes.
Certo dia, porém, sua falta foi maior. Sua ausência invadiu as casas do arredor e não mais saiu. Passaram-se dias, meses, anos. Quando soprava forte o vento, nossos olhos se voltavam para o caminho, mas só encontravam as folhas rolando em nossa direção. Nenhuma delas trazia sequer uma notícia. Hoje, depois de tanto tempo, o garimpeiro não é mais esperado. Deve ter encontrado outro lugar para ficar, outras pessoas para ajudar, um garimpo mais farto, uma jazida maior. Ficaram as sacas empilhadas na velha casa, cheias de pedras brilhantes de boas lembranças e da saudade doída que deixou. São os nossos diamantes.