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O GUGA DE GOIATUBA

Os mosquitos voltaram. Além da dengue, trouxeram agora várias outras doenças, todas estranhas como os nomes que inventaram para elas. E nós estamos apavorados aprendendo pela dor. A maioria da população já se preocupa com os quintais e o lixo jogado nas ruas. É daí que os agressores vêm e invadem nossas casas. Em bandos chegam zunindo, como uma grande orquestra, preparados para o ataque. De dia usam a tática da guerrilha: combatem e fogem, escondendo-se para voltar em momento mais oportuno. À noite esperam que a gente durma para dar o golpe mortal. Quando aparecem, trazem à frente seus minúsculos arpões com a pontinha molhada em um tipo de anestésico para facilitar o trabalho. Uma só picadinha pode significar várias idas ao hospital, uma semana de cama, outra semana no vaso, uma terrível dor de cabeça, coceira por todo o corpo e inúmeros outros desconfortos, inclusive a morte.

Eu já me preparei. Joguei todo o lixo fora, comprei repelentes, uso apenas roupas grossas e de mangas longas e sou o melhor amigo dos agentes de saúde. Sirvo até cafezinho. E o mais importante: adquiri uma dessas raquetes elétricas para completar a defesa. É uma invenção magnífica. A gente põe para carregar e ela fica tinindo. É só o bicho encostar que leva um tremendo choque e fica torradinho. Alguns dão sorte de serem arremessados longe; outros se enroscam na rede e são cruelmente massacrados. É uma maravilha! Aproveito a oportunidade para parabenizar o inventor, pois até agora não lhe foram dados créditos pela sua invenção, aliás, nem se sabe quem é.

A raquete é minha companheira inseparável. Vira e mexe estou por aí, como um verdadeiro jogador de tênis, executando manobras espetaculares na caça aos mosquitos. São aces, smashes e muitos voleios em busca do match point. Dou sempre o primeiro serviço, uma passada ou uma curtinha conforme a situação e o set é sempre meu. A tática é a seguinte: finjo estar distraído e, em seguida, como um raio, parto inteiro para o confronto. Só se escutam os estalos e os gemidos dos oponentes sendo atingidos e jogados ao saibro, ou melhor, ao chão. Em meu íntimo posso sentir a torcida aplaudindo de pé minhas jogadas. Sinto-me em plena forma, pronto para disputar essa olimpíada que vem aí pela frente.

Não é saudável fazer comparações, mas, guardadas as devidas proporções de talento e até mesmo de beleza, pois ele é bem mais simpático que eu, confesso que me sinto feito o Guga, o maior tenista brasileiro. Falta-me também um pouco dos seus cabelos longos, é verdade, mas sou vibrante, não me dou por vencido e apresento excelente preparo físico e técnica refinada no manejo da raquete. Meus adversários tremem quando estão frente a frente comigo. Alguns chegam a simular contusão apenas para adiar o encontro. Tenho até aquele sorriso maroto ao ver o meu rival estendido no solo após cada vitória. Só não fico tocando a ponta dos dedos na redinha da raquete, como ele faz, por medo de choque. No mais, somos muito parecidos. Isso mesmo, nesse jogo da vida, posso dizer que sou o Guga, o Guga de Goiatuba.

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