A linguagem popular de nossa região é muito rica e interessante. Há uma abundância de palavras e expressões em nosso vocabulário que faz a comunicação diferente e mais divertida. O uso frequente da palavra “outro” na prosa das pessoas é um curioso exemplo.
É comum alguém se explicar dizendo que não entra no assunto dos outros; muitos se esquivam e se protegem afirmando que isso ou aquilo é problema dos outros; vários se defendem repetindo que não mexem nas coisas dos outros. Dessa forma, implicitamente, o comunicador se afasta de eventuais julgamentos, se exime de qualquer culpa, pois é sempre o outro que está à frente, é sempre o outro que “paga o pato’. Para facilitar a fluidez da conversa, surgiu até a forma reduzida “zôto”. Se para a língua culta ela é inadequada, ninguém assume a autoria: é invenção dos “zôto’.
É natural alguém buscar uma frase, uma opinião alheia para fortalecer suas ideias, para embelezar seu relato apresentado. Quando se vê apertado na transmissão do conhecimento, lá vem o falante afirmando “como diz o outro...” Assim ele coloca nessa outra pessoa toda a força de seus pensamentos, seus louros, sua culpa, a defesa de sua tese. Então, penso comigo, é melhor procurar esse “outro” para trocar ideias, pois ele é quem realmente diz alguma coisa.
Tenho um amigo que nunca fala por si mesmo. Em qualquer situação, antes de emitir seu parecer, faz uso da expressão “da moda do outro”. Esse costume está impregnado em seu ser, está impresso em sua mente, não há mais como mudar. Em sua conversa, esse “outro” vai estar sempre presente, ajudando na clareza da mensagem, no artifício de seus argumentos, no âmago linguístico de sua comunicação.
Mas quem será esse “outro”, essa figura imaginária que sabe o que faz, o que diz? Quem será esse ser que traz consigo a sabedoria inquestionável e, por conseguinte, capaz de calar o interlocutor quando é citado? Não sei dizer. Não é uma lenda, não é um mito, não é folclore. Só sei que ele é forte e bastante conhecido. E, como diz o outro, é preciso respeitar!