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O Papagaio

No quintal do vizinho, um papagaio levava a sua monótona vida sob uma beira de telhado, numa improvisada moradia. Sua casa não tinha portas, não tinha janelas, não tinha paredes, não tinha quase nada. Só uma vasilha onde se revezavam a comida e a água, e um pequeno suporte de madeira que mal cabiam dois de seus curtos passos.

Vida monótona, sim! Suas asas cortadas prendiam-no ali, bem pertinho daquele cheiro horrível que vinha do habitual tacho de sabão sobre o fogo, que sua dona mexia e remexia em busca de algo que nunca encontrava. Vez ou outra, seu dono o distraía com as enfadonhas lições de casa: currupaco, dá o pé, catar piolho e as chatas continhas de matemática. E era só.

No Inverno, ele via passar, por sobre a mangueira, vários amigos seus fugindo do frio. Sempre apressados, diziam apenas um alô e desapareciam, fazendo uma tremenda algazarra, forma que demonstravam sua alegria. Que vontade matadeira de segui-los, de gritar para os céus versos de contentamento. Que vontade de fazer parte de toda aquela liberdade, mas não podia. Não podia mais voar.

O papagaio, então, dormia quase todo o dia. Foi o jeito que arranjou de passar mais rapidamente o tempo. Só havia um inconveniente: quase sempre o sono fugia em plena madrugada e ele passava, acordado, as horas mais frias da noite. Ainda bem que havia as estrelas! Ele as observava e, às vezes, até mesmo desejava uma delas para si. Por que não? Caberia direitinho no seu bico. Poderia brincar com ela, sempre que lhe fugisse o sono.

Porém, de tanto dormir, seu sono um dia se foi. Já era o segundo sol que via se esconder no infinito, sem pregar os olhos; já era a terceira noite que passava, contando as estrelas, sem um pequeno cochilo. E o papagaio deixou-se cair na sonolência de sua vida; não conseguiu manter o equilíbrio e atirou-se no tacho borbulhante de sabão. Currupaco! Foi o seu adeus.

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