Eurípedes Vieira de Castilho, o nosso professor Nem, já coloriu com sua arte vários cantos da cidade. Sensibilizou a todos que se depararam um dia com seus inconfundíveis traços num livro, numa tela, num muro, nas paredes de um local que valoriza a cultura. Na rua Corumbá, nas faces de sua residência, pode-se ver um pouco de seu muito talento...
Já parei para observar. As pinturas estão um pouco apagadas devido o correr dos anos, mas não perderam a beleza. Uma delas, pequena, revela a sensibilidade do artista no retrato de um cenário rústico dos meados do século passado: uma igreja simples ostentando a cruz no alto, uma praça, os canteiros, pequenas árvores, um mastro de São João apontando para o céu e a bandeira se dobrando ao vento. No relevo da pintura, um casal caminha em direção ao espaço destinado à igreja, já acolhido pela esperança que envolve o lugar. Ao longe, o azul do infinito conserva a todo o momento o tom roubado do paraíso.
Quanta felicidade do Poeta das Tintas ao materializar aquele quadro. Ele fez reviver um momento que quase não existe mais, um lugar que quase não existe mais, uma fé que quase não existe mais. Hoje as crenças estão dando lugar ao dinheiro, a simplicidade está sendo esmagada pelo modernismo, os povoados estão sendo trocados pelas metrópoles. Esse é o preço que se paga pelo que chamamos de desenvolvimento. Muitas dessas praças viraram shoppings, muitas igrejas viraram lojas onde se compra de tudo, inclusive a vida eterna. As bandeiras de São João se transformaram em estampas políticas, e muitos casais caminham agora sem ter uma direção.
O artista sabe disso e, em sua obra, fez renascer a graça dos velhos e bons tempos, a beleza daqueles cantos e recantos, a santidade daquela gente que verdadeiramente era feliz... No canto direito, mais embaixo, o reboco caiu e levou consigo parte da pintura, mas não tem importância, o quadro tem a magia de se perpetuar na mente de quem o vê. E, junto ao quadro, o Poeta das Tintas também se tornou imortal para todos nós.