O foguete vira-se para o céu e uma língua de fogo sobe o mais possível e explode. Sabe que quanto mais alto vai, mais distante chega o seu aviso. Em pouco tempo aparecem os vizinhos e, somados aos que ali já estão, ultrapassam o número da última vez. É um bom sinal. As crianças correm pela área e o terreiro iluminados da sede da fazenda. São os novos tempos. A energia elétrica chegou a quase todos os recantos desse nosso sertão. A lua, sabendo disso, até se atrasou um pouco para surgir lá no infinito. Os adultos se acomodam nas cadeiras e velhos tamboretes; falam do tempo, trocam saudades, sorriem.
O altar já havia sido cuidadosamente preparado. Um forro branco de renda, um vaso de flores silvestres em cada canto da mesa, uma vela ainda apagada e, ao lado do terço, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, santa. Ao chamado de uma das mulheres, todos se voltam – adultos e crianças – para a mesma direção. A vela se acende. O sinal da cruz interrompe definitivamente a prosa. A salve-rainha, o pai-nosso e as ave-marias repetem-se numa sequência organizada e fiel a si mesma há incontáveis gerações. Os olhos fechados e os joelhos ao chão não deixam dúvida alguma da fé que se forma, se agrupa, se faz maior, preenche todos os cômodos e escapa pelas frestas rumo ao escuro da noite. São feitos agradecimentos das bênçãos recebidas e novos pedidos à Santa Protetora.
Aí, o canto final, o beijo na imagem e, outra vez, o foguete volta-se para o céu. Agora não é um chamado, mas, sim, uma demonstração de alegria, uma explosão de felicidade. Lá dentro, a atenção já é toda de outra mesa, repleta de bolos e biscoitos. Um simples agrado aos amigos vizinhos que, logo em seguida, reúnem as crianças – sem trocas nem esquecimentos – e voltam para os seus lares. A certeza da fé perdura por mais um tempo. Será que a Santa ouve as preces? Será que as pessoas apenas imaginam que Ela ouve? Não sei, o certo é que a oração tem a força que conduz os fiéis no caminho traçado; caminho de simples e belos sonhos que nunca pode se acabar.